Contam que quando Deus fez o mundo, criou alguns animais primeiro, o homem e depois o restante dos animais. Entre os criados pós homens estão o dromedário, o ornitorrinco e a nossa familiar galinha. Em comum eles têm a total falta de estética, resultado dos inúmeros palpites que Deus teria recebido para colocar isto ou aquilo, espichar ou encolher o pescoço ou outro membro. Palpites dados por interesses pessoais. Por conceito estético.
Não é diferente o que tem acontecido com a proposta de reforma política. São tantos os interesses envolvidos nesta reforma que não há como fazê-la caminhar no Congresso. Só que ela não envolve questão de estética, mas de ética. Nossa legislação política é um emaranhado de normas colocadas para atender interesses dos que querem se perpetuar no mando. Algumas normas só faltam ter nome e sobrenome do beneficiário. E aí não tem como fazê-la andar. Agora já falam em fatiar a reforma, empurrando algumas mudanças lá para 2020. Ela não pode ser pensada desta maneira. Precisa ser elaborada como um todo harmônico. Podem apostar, se fatiada vai se transformar num dos animais criados por Deus ouvindo sugestão do homem. E da mulher, claro. E nem é tão complicado assim imaginar o que precisa ser imediatamente mudado.
Não há, por exemplo, manter as dezenas de legendas criadas de forma aleatória, sem qualquer base ideológica. Existem para atender interesses de seus donos, o principal deles financeiro representado pelo Fundo Partidário, de onde sai dinheiro a rodo, utilizado sem qualquer controle. Não é mais possível permitir as coligações nas disputas proporcionais, feitas a qualquer custo para assegurar minutos na propaganda eleitoral, propiciando a eleição de muitos que não têm qualquer representatividade.
Enfim, são muitos os pontos a serem mudados. Todos com o mesmo nível de urgência e que não permitem protelações. Empurrar fatias da reforma para daqui a seis anos porque? Para atender o interesse do país é que, certamente, não é. Reforma com Renan Calheiros e Aécio Neves vai ser difícil acontecer. Ou melhor, nunca.