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Um país sem líderes

Paulo César de Oliveira
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O Brasil só começa mesmo depois do Carnaval. Esta é uma verdade antiga, embora muitos, de alguns anos para cá, tenham esticado para após a Semana Santa este quase recesso do país. Os anos passam e esta segunda versão vai se consolidando. Alguém tem dúvida de que o ano ainda não começou por aqui? Alguém tem dúvida de que este ano será assim? Até porque a Quaresma, que começa na quarta, será uma ótima oportunidade para os governos, federal e os estaduais, se penitenciarem das enormes bobagens que andam fazendo. O voluntarismo infantil dos que chegaram ao Poder, considerando que tudo podem, tem travado o debate político. E sem o debate e o entendimento político, nada feito. O radicalismo de lado a lado – justiça se faça, mais do lado do governo- sela a irracionalidade das atitudes. O governo tem tentado impor medidas, como a recente MP que proíbe desconto de contribuição sindical nas folhas de pagamento, que já foram ou serão derrubadas. É o cabo de guerra que estão tentando implantar na política que sempre foi a arte da busca de consenso. O governo acha que tem a força. A oposição, e até mesmo parte da base, por questão de sobrevivência, impõem suas dificuldades. O radicalismo, que num primeiro momento beneficia o governo que se mostra autoritário- o que estranhamente agrada aos brasileiros, sempre ávidos por um paisão que resolva todos os seus problemas- e firme em sua decisão de fazer, pode, já advertiram lideranças políticas mais cautelosas, levá-lo ao desgaste junto ao povo. Bolsonaro, esquecem seus aliados, e, importante, seus filhos, se elegeu com a promessa de entregar, quase como num delivery de pizza, um país novo, na casa de cada um, rapidamente. Na medida em que demora com as mudanças prometidas, perde credibilidade, assim como estão perdendo os governadores. Dos 48 meses de seu mandato Bolsonaro já perdeu dois e, como tudo só começa depois da Semana Santa, vai perder mais um e meio. E não podemos esquecer que a situação não é diferente nos estados, onde os governadores têm sido, até aqui, medíocres, sem imaginação e sem liderança e autoridade política para conduzir seus governos. Somos sim um país carente de lideranças em todas as áreas, mas, em política, a situação só se agrava a cada eleição. As medidas que a equipe econômica de Bolsonaro vêm propondo têm toda a lógica, embora possam merecer pequenos, mínimos, reparos. Sem elas ficará difícil, impossível quase, recolocar o país nos trilhos do desenvolvimento. Falta, porém, capacidade de articulação e liderança, ao presidente para conseguir levar as propostas adiante. De nada adianta uma bem feita campanha de marketing para convencer o cidadão de que a necessária reforma da Previdência- me fixo nada pela própria insistência do governo em apresentá-la como fundamental- se não temos um líder para convencer o povo, fazê-lo aceitar até com alegria, que o sacrifício é necessário. Churchill, em seu primeiro discurso na Câmara dos Comuns, como primeiro ministro, afirmou ao Parlamento, e ao povo, que nada tinha a oferecer, a não ser “sangue, sofrimento, lágrimas e suor”. Com coragem e franqueza, liderou a resistência inglesa contra o nazismo na Segunda Grande Guerra, libertando seu país e a Europa. O exemplo de Churchill não empolga nossos governantes, pela simples razão de que não têm estatura para assumir uma liderança deste porte. Preferem o exemplo de Pepe Mujica, que governou o Uruguai entre 2010 e 2015, com “muita humildade”, tanto que preferiu morar em sua casa, em vez de usar o palácio. Ao final fez a sua mea culpa: “conseguimos transformar pobres em consumidores, não em cidadãos”. Te faz lembrar algum outro país?

 
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