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A crise não é de hoje. É do governo Lula

Paulo César de Oliveira
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A atividade econômica brasileira passa por um momento de decadência, na avaliação do ex-ministro da Fazenda, no governo Itamar Franco, Paulo Haddad (foto), que não vê condições de melhora para os próximos dois anos. Falar em crescimento, por menor que seja, é uma ilusão, segundo ele, já que a estrutura do governo é fisiológica e acaba impedindo o avanço de reformas necessárias para ajustar as contas e colocar a economia nos trilhos. A economia, na opinião do economista, chegou a essa situação devido a sucessivos erros que são cometidos desde o segundo mandato de Lula.

 

O que levou o país a essa recessão econômica?

Desde 2014 o Brasil entrou em uma recessão econômica. Há uma convergência do fracasso de dois modelos: o político e o econômico. O político, é a exaustão do modelo de presidencialismo de coalizão, que acabou se transformando num grande balcão de negócios de partidos políticos. Isso dificulta o andamento das reformas estruturais necessárias para o país voltar a crescer. A reforma da Previdência, a reforma trabalhista, a tributária, dentre outras. E a segunda é o fracasso da nova matriz econômica, que é a política econômica do governo Dilma. Tendo em vista as dificuldades políticas para fazer as reformas estruturais, e a decadência econômica provocada pela nova matriz imposta pelo governo, o grande risco é caminharmos para uma grande recessão. O que significa que até 2018, 2019, não vejo alternativa para a retomada do crescimento.

 

Nesse governo vai ser difícil retomar o rumo da economia.

Não, impossível. Nesse governo é impossível. Esse é um governo politicamente fisiológico.

 

Onde está o erro?

Na concepção da política econômica e no modelo político e coalizão de partidos, que na verdade é um conluio de interesses velados.

 

Mudando a presidência da Câmara isso não resolve?

Não resolve. O problema é no modelo de presidencialismo. A experiência mostra que, quando se chega a um momento como este, você tem que ter grandes transformações. Não basta fazer um corte de despesa e aumentar imposto. Você tem que fazer uma grande transformação. Nós já tivemos algumas experiências de grandes transformações, com JK, com Roberto Campos na política econômica de 1965 e com o Plano Real. Isso pressupõe um novo pacto político com as forças existentes no país.

 

A atual presidente não teria legitimidade para isto?

Para fazer essa mudança é preciso ter legitimidade e confiança da população.

 

O que nos resta?

Resta um período com risco de grande recessão. Significa que a taxa de desemprego pode caminhar para 15%. Para os mais jovens deve chegar a 25% e isso é a grande recessão. A taxa per capita deve ficar negativa ou nula, a falta de confiança dos investidores para investir e dos consumidores para se endividar. Com isso, há uma espécie de paralisação do sistema.

 

Especialistas falam em uma taxa de crescimento de 0,5% no ano que vem?

Ilusão. É meio por cento em cima de nada, porque quando você cai, qualquer coisinha dá uma taxa de crescimento positiva. Quando você está caindo da montanha, se tiver um caindo, dá um pequeno pico, um sobressalto de crescimento, mas sem uma força motivadora, estrutural, algum movimento que faça a reversão desse processo.

 

Tudo isso é consequência de ações tomadas lá atrás, ainda no governo Lula?

Começa no segundo mandato do presidente Lula. Quando veio a crise mundial de 2008, em vez de enfrentar a crise, fez uma série de ações, como os incentivos fiscais para a indústria automobilística, para a de eletrodomésticos, ampliou o programa Minha Casa, Minha Vida, e, com isso, as finanças públicas se desorganizaram violentamente. Eu diria que o ponto de partida foi o que se fez a partir de 2008. A partir daí foram sucessivos erros. Um erro puxando o outro. Nós chamamos isso de decisões casuísticas, sem visão de longo prazo.

 

Como o país vai sobreviver a essa fase?

O país não tem uma coisa que nós chamamos de veias abertas. Algumas coisas vão funcionar. O agronegócio está funcionando bem, o turismo interno vai substituir o turismo externo. Com a alta do dólar vai haver substituição de importações. Coisas vão acontecer de tal forma que não vamos entrar em uma depressão econômica como em 1929. Mas é uma grande recessão. Uma sequência de más notícias. Se eu pudesse resumir, diria que nós entramos em um processo de decadência econômica.

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