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Cartucho queimado

Paulo César de Oliveira
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Fernando Haddad

Mercado vê com preocupação a decisão do governo liberar R$ 20,6 bilhões em despesas, reduzindo o corte previsto para este ano. A folga veio de receitas extraordinárias, como o aumento do IOF e antecipações do pré-sal. No papel, o déficit primário estimado para 2025 caiu para R$ 26,3 bilhões, quase zerado. Mas o alívio é ilusório. Ao gastar receitas não recorrentes, o governo compromete 2026, ano em que a meta é de superávit. Pior: a receita líquida deve crescer 8,5%, mas as despesas avançarão 10%. O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, em vez de sinal de ajuste, virou gatilho para mais gastos. A escolha enfraquece o discurso fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (foto/reprodução internet), e desperdiça a chance de recuperar confiança, ancorar expectativas e ajudar a derrubar juros e inflação. Sinal trocado não convence — nem o mercado, nem a sociedade.

Déficit à vista, ajuste à deriva

Mesmo sem contar os precatórios, o cenário fiscal para 2026 já aponta para um déficit entre R$ 50 e R$ 60 bilhões. A meta de superávit segue no discurso oficial, mas o orçamento parece montado às pressas. E pior: está ancorado em receitas temporárias, como as do petróleo, o que torna a trajetória insustentável. O ajuste real, se vier, ficará para 2027. Até lá, o país navegará entre bloqueios e cortes pontuais, sustentado por um arcabouço instável. No meio do caminho, uma eleição decisiva. Se o próximo governo não for reformista e comprometido com o equilíbrio fiscal, não haverá força política para conter a deterioração. A oposição, desarticulada, pouco contribui. Até temas estratégicos, como a política comercial, foram capturados pela lógica eleitoral. A chance de correção existe, mas o percurso até lá será turbulento.

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