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Dia do Trabalho. Dia de preocupação para o trabalhador

Paulo César de Oliveira
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Hoje é o Dia do Trabalho. Ou do trabalhador. Mas o aprofundamento da crise econômica gera números assustadores na economia. E o dia que deveria ser de comemorações passa a ser de reflexão. A queda brusca do desempenho dos diferentes setores da economia, acelera o desemprego e já atinge 10,9% da população ou 11,1 milhões de trabalhadores brasileiros. Para o economista do Dieese, Fernando Duca (foto), a curto prazo não há expectativa de uma melhora clara no nível de empregos. A notícia boa é a de que a crise política que contamina a economia, não deve se estender por muito tempo e com isso a situação tende a se estabilizar.

 

Por esses dados preliminares da última pesquisa do IBGE, que detectou 11,1 milhões de desempregados no país, é a parte mais cruel da recessão econômica?

O desemprego por si só é sempre sério, independentemente do nível em que estiver. Se está em um nível baixo, no nível familiar, quer dizer que na maioria dos núcleos familiares haverá alguém empregado e a renda familiar será mantida em algum nível e com algum tipo de estabilidade. Quando o desemprego começa a aumentar demais, igual o dado do IBGE, de 10,9%, já começa a ter um problema de uma redução expressiva da renda familiar, porque o nível de desemprego começa a espalhar entre os chefes de família e o desemprego começa a ficar mais generalizado. Sem dúvida é um problema social, ainda mais em um país igual ao Brasil, onde há mais pobres, onde as famílias pobres, por conta dos rendimentos que nunca foram elevados, não conseguem fazer uma poupança e não consegue ter uma folga financeira para se preparar para ficar sem emprego.

 

As pessoas também estão sem perspectiva devido à falta de um horizonte de melhora da economia?

A curto prazo não há nenhuma perspectiva clara de melhora de empregos. Quando se pega os dados da ocupação formal, pegando só os celetistas e estatutários percebe-se que alguns setores que conseguem se destacar, que conseguem manter as contratações, em níveis estáveis, são esporádicos, é um setor ou outro. Não é nada que indique uma tendência da economia. O país como um todo passa por um período de muita instabilidade não só econômica, mas também política, e são coisas que se retroalimentam. A instabilidade econômica afeta a instabilidade política e então fica difícil fazer uma previsão. Além da instabilidade, tem a questão do impeachment que, passando ou não passando é uma nova fronteira de possibilidades que se abre e torna muito difícil uma leitura para além da conjuntura imediata.

 

Tanto pode aumentar a confiança do investidor, como o contrário?

A confiança do investidor, sem dúvida, é importante na questão do emprego. Mais investimentos, mais empresas abrindo fábricas, lojas, aumentando as contratações, expandindo a capacidade produtiva e industrial. Tudo isso impacta diretamente no nível de emprego. Mas é um pouco complicado querer inferir como o empresário responde a questão da conjuntura. É uma coisa importante para se considerar sim, mas a confiança tanto do empresário, quanto do consumidor está em níveis baixos porque a situação econômica é ruim. Mas afirmar que determinado desfecho político é mais ou menos favorável é uma leitura um pouco leviana. A situação em que estamos, de completa indefinição, é pior, porque não se sabe como se programar, como será o futuro. Essa situação política não tem como se alongar por muito tempo mais, e com isso a instabilidade política vai se acalmar de uma forma ou de outra. Só o fato de se acalmar um pouco será melhor porque haverá uma previsibilidade e um prognóstico mais seguro.

 

Se continuar essa queda no nível de emprego, o que pode acontecer?

Parcela da população vai ficar desassistida. Tem uma parcela que ainda vai receber o seguro desemprego, tem uma parcela da população que tem o FGTS para sacar e que consegue segurar ainda por um tempo, às vezes busca por um tipo de empreendimento, busca se recolocar no mercado de trabalho, ou tem uma poupança e os programas sociais para segurar até uma possível melhora. Com o tempo, se a atividade economia não melhorar, não voltar a contratar mais pessoas, se não voltar a aumentar o nível de emprego, a população vai ficar cada vez mais desassistida e vai ter que buscar algum tipo de rendimento. Já dá para perceber que parcela boa da população faz um movimento para o subemprego, bico e alguma forma de ter algum tipo de rendimento. Ele não está se preocupando mais com carteira assinada, com o nível salarial. Só está preocupado em ter algum rendimento.

 

Nesse estudo do IBGE há uma tendência de estabilidade na média salarial, que estava caindo?

Na verdade, subiu cinco reais em relação ao último trimestre. Essa é uma oscilação dos dados, dentro da margem e na verdade não é o salário formal, é rendimento e nesse caso entra salários regulares sem carteira assinada, os bicos, o Bolsa Família e outros programas sociais.

 

Esses dados chegaram a surpreender?

Eles eram esperados. Qualquer analista já esperava que o desemprego iria acelerar, não há dúvida nenhuma. Mas há um outro detalhe: houve um aumento também na procura por trabalho. Pessoas que não trabalhavam e que passaram a procurar trabalho. A pessoa só é considerada desempregada a partir do momento em que ela começa a procurar trabalho. Houve um aumento do desemprego que foi causado não só com a diminuição de vagas no trabalho e esse movimento também era esperado. Se você tem uma taxa de desemprego baixa, com o aumento de chefes de família empregados, o jovem adia a sua entrada no mercado de trabalho. Ele vai estudar mais, vai esperar um emprego melhor. Quando a taxa de desemprego aumenta, quando no núcleo familiar mais pessoas ficam desempregadas, essas pessoas que antes tinham capacidade de trabalhar, mas que, por algum motivo não trabalhavam, passam a ver a necessidade de buscar o mercado de trabalho e com isso tem um aumento da procura.

 

O desemprego entre os jovens é maior?

Nesse dado do IBGE não é feita essa discriminação. Mas outros dados disponíveis nós observamos que é maior, independente do país, da situação econômica. O desemprego entre os jovens é costumeiramente maior. Se formos considerar como jovens as pessoas, excluindo a parcela de 14 a 17 anos, e pegar os de 18 a 24 anos, a taxa de desemprego está na faixa dos 19%. Mas mesmo no auge do ciclo de emprego, com altas taxas de ocupação, a taxa de desemprego entre os jovens também foi maior. Mas um valor de 20% chama a atenção e é preocupante. É um em cada cinco jovens tentando arrumar emprego e não consegue.

 

Alguns economistas acreditam que a taxa de desemprego entre os jovens pode chegar a 25%?

Como a taxa de março foi maior, é esperado que a taxa de abril também seja maior. Pelo menos ao longo dos próximos meses nada indica que vai haver uma mudança na atividade econômica, que ela vai expandir, então, a taxa de desemprego tende a subir entre os jovens, entre os mais velhos, vai subir como um todo. Mas tudo isso depende de um estudo mais apurado.

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