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Enfrentar o desafio dos transportes é responsabilidade de toda a sociedade

Paulo César de Oliveira
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Impressionam os números sobre as consequências da greve dos caminhoneiros. Eles mostram, com absoluta clareza, que algo precisa ser feito com urgência no país, não para nos livrar do direito sagrado da greve, mas para dar suporte ao desenvolvimento econômico e ao também sagrado direito das pessoas de irem e virem. Uma categoria, qualquer que seja ela, não pode parar o país. Quando isto acontece, há algo de muito errado. No caso dos transportes é evidente que optamos pela estratégia errada. E não é de hoje. Lá atrás, em 1928, na inauguração da primeira estrada asfaltada do país, a Rio-Petrópolis, o então presidente Washington Luis, dava o rumo de nosso transporte, afirmando que “governar é abrir estradas”. No governo JK, no final dos anos 1950, vivemos talvez o auge da implantação de rodovias, como estratégia de desenvolvimento do setor automobilístico e política de integração nacional, impulsionada pela construção de Brasília. Até que poderíamos, como fizemos, seguir neste rumo sem, no entanto, abandonar as ferrovias. Tínhamos uma malha razoável, montada no Império e que avançou um pouco mais na República. Aí cometemos outro erro que foi manter nas mãos do Estado praticamente toda a malha. Nossa crônica incapacidade de investimento fez com que os sucessivos governos abandonassem o sistema ferroviário até sucateá-lo e repassar o que sobrou de interessante para o setor privado. Os trechos de menor potencial de retorno foram abandonados e hoje são um monte de dormentes- os trilhos já foram roubados- abandonados pelo mato. O sufoco da greve dos caminhoneiros, com seus prejuízos superlativos, começa a abrir a discussão sobre manter nas estradas um país do tamanho do Brasil. Este sistema único de transportes, encarece nossos produtos e gera insegurança. Já passamos da hora de discutir seriamente a implantação de novos modais, seja para rodovias, seja para áreas urbanas. Se alguém tinha dúvidas quanto a importância de mudanças na infraestrutura de transportes, já não deve ter. Ela não é apenas necessária. É urgente e se não acontecer vai fazer o país, mais uma vez, chegar muito atrasado ao futuro. O tema infraestrutura de transportes, que saiu do limbo transportado pelos caminhoneiros. não pode ficar fora dos debates da campanha eleitoral. Mas precisa ser tratado com seriedade, sem a demagogia barata dos discursos fáceis que trombeteiam soluções impossíveis. A sociedade organizada e responsável, precisa participar desta discussão. É assunto de interesse geral. Ouso até colocá-lo no mesmo patamar das discussões sobre saúde e educação. Boa estrutura de transportes é essencial para o desenvolvimento sustentável. Nos últimos anos demos saltos de qualidade no setor telecomunicações com a privatização. Se ainda nas mãos do Estado, com certeza teríamos os “orelhões” como um avançado instrumento de comunicação entre as pessoas. Orai e vigiai, ensinam os escritos cristãos. Privatizai e controlai, parece ser a solução para o país andar em paz.

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