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Num país em crise, a solução é Lula ser derrotado nas urnas

Paulo César de Oliveira
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O brasileiro tem vivido momentos de tensão nos últimos anos, de o atual. A corrupção, a arrogância de alguns políticos levou o cidadão ao seu limite e o que se vê atualmente é um retrato do que o país virou nos últimos anos. Nas eleições municipais, os partidos que sempre dominaram as grandes cidades acabaram derrotados. O PT foi o partido que mais perdeu espaço, mas não caiu sozinho. Nas eleições deste ano também devem diminuir o PSDB e o MDB. O país também está dividido e a polarização da disputa entre Lula e Bolsonaro é uma prova dessa situação. A decisão do TRF-4, no entanto, muda esse quadro, ao tornar Lula inelegível. A sua provável saída da disputa altera o quadro atual e os candidatos de centro ganham espaço, segundo o cientista político Malco Camargo (foto), que prevê a continuidade dessa divisão no país por um longo tempo ainda.

 

Com a decisão do TRF-4 em relação ao ex-presidente Lula, como fica o cenário eleitoral no país?

Para 2018, a novidade no cenário é a tendência de despolarizar a disputa entre Bolsonaro e Lula. Essa polarização atual, com a provável saída de Lula da disputa, faz com que parte do eleitorado de Bolsonaro, que não o escolhe por ser ele, mas por ser a principal alternativa capaz no momento, de enfrentar o candidato do PT, tende a migrar para um candidato de centro. Parte dos eleitores de Lula vai para o centro e parte dos eleitores de Bolsonaro vai para o centro. Isso deixa a eleição muito mais como uma avenida que vai correr pelo centro esquerda ou direita, do que a polaridade que vínhamos observando até o momento.

 

Como fica a situação do PT?

É preciso ver duas coisas. A primeira é que Lula é maior do que o PT. Lula ao disputar, o PT ganhava a possibilidade de se manter no poder através do lulismo, um espaço que o Lula ocupava, muito mais do que o PT. O PT, desde 2014 vem perdendo o seu discurso, seja nos movimentos sociais, seja a partir da transformação que aconteceu no Brasil. A saída de Lula retoma a possibilidade de um discurso do PT, que vai se colocar como um partido que tem sido cassado ou prejudicado por ações das elites. O partido pode se aproximar novamente das bases populares que ele vinha perdendo com o passar do tempo. Ele pode ocupar um espaço que foi ocupado só pelo lulismo e não pelo PT. O que aconteceu com Lula dá ao partido o discurso “eles contra nós”. “Eles” a elite e “nós” o Partido dos Trabalhadores e, com isso, os mais pobres.

 

Que nomes o PT teria para entrar nessa disputa?

O PT tem dois nomes com perfis completamente diferentes. Um é Fernando Haddad e o outro é Jacques Wagner. Os dois não têm mandato, não precisam se desincompatibilizar e podem ocupar o espaço a qualquer tempo. Esses dois são coringas e podem entrar na eleição a qualquer momento. Jacques Wagner está em uma secretaria, mas vai sair. Um é mais identificado com São Paulo e o outro mais vinculado ao nordeste. Um mais identificado com as elites e o outro mais identificado com os mais pobres. Eu apostaria mais no Jacques Wagner, por ele ter um perfil mais similar ao de Lula, que é quem está sendo tirado da disputa. Na aposta de quem é mais próximo de Lula, acho que Jacques Wagner tem mais chances nessa eventual vaga que, provavelmente, vai se abrir.

 

E as candidaturas de Alckmin e Ciro Gomes?

Esses são beneficiados com essa saída de Lula. Enquanto Bolsonaro perde e Lula perde, esses candidatos que tendem a ocupar espaço de centro podem crescer. Pode ser bom para Alckmin, pode ser bom para Ciro Gomes, se ele conseguir migrar um pouco para o centro, pode ser bom para Marina Silva e pode surgir a candidatura de Luciano Huck, porque continuo apostando na sua candidatura, independente de qual seja o cenário.

 

Por que Luciano Huck entraria na disputa? Ele nega a sua candidatura.

Ele entra no que a economia chama de senso de oportunidade. Ele abrir mão agora, pode estar abrindo mão de um espaço que pode não estar aberto novamente no futuro. É muito mais fácil para alguém de fora da política ocupar um cargo de relevância atualmente, a partir da crise em que nós vivemos, do que provavelmente em um futuro próximo.

 

Ele teria chances reais de chegar à presidência?

Acho que o espaço está muito aberto para alguém com um perfil igual ao dele, que além de representar a nova política, representa a família brasileira, no seu estilo de vida, como pai de família, com os filhos bonitinhos, o sonho liberal de quem conseguiu prosperar na carreira, com a valorização do trabalho individual de cada um, além de já ter o conhecimento, o que vai ser muito importante na eleição, uma vez que a campanha será escassa e com o eleitor cansado de política. Quem tem mais conhecimento sai na frente. O Luciano Huck tem um espaço de relacionamento com o eleitor, a partir da televisão, há muitos anos.

 

As candidaturas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, nomes mais ligados ao presidente Michel Temer tem chances nessas eleições?

Não vejo nenhuma possibilidade de o governo ser um ator relevante nessa eleição. Por mais que o mercado queira, por mais que parte da elite da sociedade queira, o eleitor médio é o que representa a avaliação que o governo Temer tem, com uma avaliação negativa. Qualquer um que represente por esse campo dificilmente terá sucesso nessa eleição.

 

Haverá alguma novidade nessa eleição?

Eu aposto como novidade é Luciano Huck entrando como um player importante no cenário. Mesmo ele dizendo que não é político, o que não é um problema para disputar na política, ele fala que nunca será político, sempre que ele fala que não é candidato, ele pontua o “hoje” e não ser candidato agora não significa dizer que não será candidato no registro das candidaturas a partir de agosto.

 

Qual a influência desse episódio da condenação de Lula para o PT ?

Com o passar do tempo o eleitor tem votado com uma lógica bastante diferente na escolha para deputado, na disputa para governador não tem havido muita conexão e mais ainda na escolha do presidente. Quando o PT cresceu, ele não cresceu porque Lula estava bem. Ele cresceu em uma onda pró PT e o Lula cresceu junto com isso. O PT foi crescendo com o passar do tempo e não necessariamente foi ampliado o número de governadores. Não vejo muito como reverter a tendência de queda do PT, que já vinha acontecendo desde 2014. Há uma tendência de queda independente de quem seja o candidato, seja Lula ou outro candidato.

 

Continua a tendência que aconteceu nas eleições municipais?

O PT vai ter mais dificuldade nas grandes cidades e nos grandes estados, nos grandes centros.

 

Isso vai acontecer com o PSDB e com outros partidos?

Na verdade, enquanto o PT pagava esse preço sozinho, isso se vê agora com os três grandes partidos: o PT, o MDB e o PSDB. Na eventual saída de Lula da disputa acaba com a possibilidade de distencionar a política em 2018. Qualquer resultado que se tenha, vai ficar um gosto de uma eleição que não apaziguou a vontade do eleitorado, porque o player principal antes do pleito não pode disputar. Essa crise política e essa divisão da sociedade vão para além deste ano e vai continuar por mais algum tempo com essa separação. Na minha opinião, a única forma de se resolver seria que em 2018 pudesse ocorrer uma eventual derrota de Lula nas urnas. A vitória também não resolveria, porque parte da elite não admitiria uma vitória dele, voltaria a falar que ela é fruto de um exagero de políticas sociais, um clientelismo exacerbado, de recursos escusos na campanha. Para acabar com a divisão seria importante que ele fosse derrotado. Com ele não sendo candidato, esse acirramento vai continuar por mais algum tempo.

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