O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o BC faz o papel de “chato da festa”, aquele que avisa que é melhor diminuir na bebida, que é preciso abaixar o som e manter o controle da situação. Segundo ele, parte do trabalho da instituição é “tomar cuidado para que fatores não provoquem um desarranjo, que cause crescimento da demanda muito acelerado em relação à oferta e que possa gerar algum tipo de pressão inflacionária”. Ele evita falar da sua provável indicação para a presidência do BC, no lugar de Roberto Campos Neto, mas deixa claro a sua posição na instituição, na sua palestra para empresários, políticos e representantes da sociedade no almoço-palestra do Conexão Empresarial, evento promovido pela VB Comunicação.
Simpático e disponível para conversar com os empresários, Galípolo não deixou de responder a nenhum dos questionamentos dos participantes do Conexão Empresarial. Mesmo faltando apenas quatro meses para o fim do mandato de Roberto Campos à frente do BC e com todas as apostas do mercado indicando o seu nome para ocupar a presidência da instituição, Galípolo se mantém discreto e Cauteloso em suas afirmações. Ele passou parte da sua palestra explicando declarações anteriores e que deixaram algumas interrogações.
Interferência política
Galípolo garante que não sofre interferência política e “jamais se sentiu pressionado” a tomar determinada posição em relação a política monetária do país. Para ele, o debate sobre a taxa de juros aplicada no país é pública e o presidente Lula expõe publicamente suas posições, levando esse tema para a discussão da sociedade. Segundo ele, o que acontece é justamente o contrário, “o que eu posso dizer, e dar um testemunho é no sentido contrário. Eu jamais me senti pressionado a tomar qualquer tipo de atitude, desde a minha indicação no Banco Central.”
Há quatro semanas da próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) para definir sobre a taxa Selic, que está em 10,5%, o economista prefere não antecipar sobre o que pode acontecer, porque, segundo ele, existem muitas variáveis a serem analisadas, lembrando que o desemprego no país está baixo, houve crescimento na renda da população e há uma expectativa de crescimento da economia e garante que ninguém no Copom tem o “pensamento perverso” de querer um cenário pior.
Em relação aos próximos movimentos da taxa Selic, no entanto, ele ressaltou que “não há centro da meta. O BC tem de perseguir a meta de 3%, e as expectativas estão acima disso. A ata do Copom deixou bem claro que nós estamos dependentes de dados, e existe um rol de dados que vão ser publicados e as alternativas estão abertas”. Mas enfatiza que “vamos com todas as opções para a próxima reunião do Copom”.
Cenário desconfortável
Um pouco antes, ele havia afirmado que o cenário atual é desconfortável para o cumprimento da meta da inflação. Ele pondera que existem fatores que interferem, como mudanças de cenário abruptas, como aconteceu recentemente no Japão, que registrou uma queda na Bolsa de Valores maior do que a ocorrida em 1997. Um movimento atípico e que tem reflexos na economia do país.
Outro ponto importante abordado por Gabriel Galípolo no Conexão Empresarial, diz respeito a independência do Banco Central. Essa, segundo ele, é uma “experiência bastante interessante” e, mesmo com posições muitas vezes antagônicas, curiosamente, esses dois extremos partem do mesmo diagnóstico de que a ideia de que a autonomia do Banco Central não quer dizer fazer algum tipo de pirraça ou se opor ao poder democraticamente eleito. Gabriel Galípolo acrescenta que ninguém no Banco Central está querendo ficar em uma posição de não prestar contas à sociedade, ou não explicar suas atitudes.