A alta da inflação e a facilidade cada vez maior de acesso têm provocado uma mudança no hábito de quem quer aplicar as economias. Os investimentos no Tesouro Direto – programa que oferece títulos públicos a pessoas físicas pela internet – dispararam em 2015 e bateram recorde em maio. No mês passado, as vendas de papéis por meio da modalidade somaram R$ 2,411 bilhões, o maior valor mensal da história, e pela primeira vez acima da marca de R$ 2 bilhões. A cifra representa mais que o dobro do segundo maior volume de vendas da história, registrado em março, quando as vendas mensais tinham totalizado R$ 1,008 bilhão e ultrapassado R$ 1 bilhão pela primeira vez. O contraste é maior em relação ao ano passado, quando a média das vendas mensais foi R$ 414,8 milhões.
Maioria de pequenos investidores
Em maio, o número de investidores cadastrados no programa atingiu 508 mil, acima de 500 mil pela primeira vez. Em 2015, cerca de 10,8 mil investidores aderiram ao Tesouro Direto por mês, contra média de 6,8 mil no ano passado. Para o professor Alexandre Espírito Santo (foto), do Ibmec – instituição de ensino especializada em temas econômicos -, a segurança da aplicação, com risco praticamente zero de calote, e a inflação em alta são as principais causas do aumento do interesse no programa. “Com a inflação ameaçando chegar a 9% no acumulado de 12 meses, as pessoas buscam uma forma de se proteger. Como a poupança, que é a aplicação mais tradicional para os pequenos investidores, está rendendo menos que a inflação, o Tesouro Direto virou uma opção viável e atrativa, mesmo cobrando Imposto de Renda e taxa de administração”, diz o professor. Historicamente, a maioria dos investidores compra papéis atrelados à inflação, mas em maio, a preferência por esse tipo de título bateu recorde, com 70,6% das vendas.
Para o Tesouro foi uma simples questão de comunicação
Para David Rebelo Athayde, gerente substituto de Relacionamento Institucional do Tesouro Nacional, o aumento da procura pelo Tesouro Direto está relacionado à melhoria na comunicação com a sociedade. Em março, o órgão reformulou a página do programa na internet, explicando melhor os tipos de papéis e oferecendo ferramentas como a calculadora de rendimentos. “A página anterior do Tesouro Direto não era amigável para quem não entendia de títulos públicos. Os papéis eram apresentados apenas por meio das siglas. Para o aplicador, era uma sopa de letras que dificultava entender o que cada título rende”, diz Athayde. “Sentimos um aumento no interesse justamente depois da melhoria dos canais de comunicação”, acrescentou. A maioria das aplicações está na faixa de até R$ 5 mil por investidor.
Veja seu perfil e a melhor aplicação para ele
Desde janeiro de 2002, o Tesouro Direto vende títulos públicos a pessoas físicas pela internet. Para participar do programa, o investidor deve procurar uma corretora ou o próprio banco onde tem conta. Os clientes podem comprar frações de títulos por apenas R$ 30, mas devem estar atentos. Ao contrário da caderneta de poupança, que permite resgates imediatos, o aplicador precisa deixar o dinheiro rendendo até o vencimento para ter direito à taxa contratada, seja ela a Selic (juros básicos da economia), a inflação ou a prefixada (definida com antecedência, no momento da compra). Geralmente, os papéis atrelados à Selic são indicados a quem pretende fazer uma aplicação de curto prazo, de um ano. Os títulos prefixados são recomendados a quem deseja aplicar no médio prazo, a partir de dois anos. Os papéis corrigidos pela inflação, que oferecem a reposição da inflação oficial e um rendimento adicional, destinam-se principalmente a quem quer aplicar no longo prazo, para garantir a aposentadoria ou pagar a faculdade dos filhos. Alguns papéis pagam juros, chamados de cupom, a cada seis meses aos investidores. O Tesouro, no entanto, aconselha cada investidor a responder um questionário, no site do programa, para avaliar a melhor escolha caso a caso. Ao contrário da poupança, isenta de Imposto de Renda, o Tesouro Direto é tributado conforme o prazo da aplicação e tem a incidência de taxa de administração cobrada pelo banco ou pela corretora que faz a aplicação.