O economista e consultor da RC Consultores, Paulo Rabello de Castro, e o economista e analista da Toro Investimentos, Victor Lima, participaram ontem do terceiro painel do Conexão empresarial “Economia e agora?”, evento promovido pela VB Comunicação. Victor Lima disse que um dos objetivos da Toro é quebrar essa ideia de que investimento é para pessoas muito inteligentes e ricas. Isso não é verdade, segundo ele, que observa que houve um aumento significativo de investidores nos últimos quatro anos, chegando a quatro milhões de CPFs de investidores neste ano. Mesmo com a descoberta por esses investidores dos atrativos oferecidos pela Bolsa de Valores, Victor Lima fala da sua preocupação, e do mercado, em relação a inflação, em especial com o aumento nos preços dos combustíveis e da energia, que pesam fortemente no aumento dos preços dos produtos. Com os juros cada vez mais altos, com a Selic a 7,75% e podendo chegar a dois dígitos no ano que vem, esse cenário acaba assustando os investidores. Ele observa que essa alta na inflação acontece no mundo inteiro, inclusive na Europa e nos Estados Unidos, sendo que esse último pode, inclusive, ampliar na redução de incentivos na economia o que pode ter um forte impacto no mundo. Há ainda uma possibilidade de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, que é uma situação atípica, segundo Victor Lima. Ele disse que, mesmo assim, as empresas nos Estados Unidos tiveram um desempenho acima do esperado após a pandemia, o que não ocorreu com as empresas brasileiras. O cenário eleitoral também deve deixar o mercado brasileiro volátil e sem direção. Mesmo com todo esse cenário, Victor Lima entende que esse momento é de investir a longo prazo.
Repetindo os cacoetes
Paulo Rabello de Castro, que foi presidente do BNDES e do IBGE, lembrou do economista Eugênio Gudin, durante a sua participação no evento promovido pela VB Comunicação. Gudin se referia ao Brasil como a sua amante que o traiu. Esse é o cenário no Brasil, segundo Paulo Rabello, que se comporta como uma ante traída e “o país repete os mesmos cacoetes nos últimos 20 anos, o de buscar as soluções onde elas não existem”. Para agravar a situação, a produtividade industrial está estagnada. Tirando o agronegócio, Paulo Rabello observa que o resto da produção no país está parada. Segundo ele, o setor produtivo sofre recorrentemente devido a tributação direta, da indireta e da adiada, que vem com o déficit primário, que acaba gerando o aumento do endividamento. O único crescimento consistente que vem acontecendo desde 1995 é o da curva da despesa primária do governo, independente de inflação, chegando a 300% acima do PIB. Paulo Rabello disse que o país que paga as contas públicas, não acompanha o volume das despesas públicas, mas está sempre pagando essas despesas. Além disso, ele afirma que existe a corrupção que faz com que o setor público esteja organizado para sempre necessitar de mais recursos. “Estamos apresentando recorde de arrecadação e seguimos reproduzindo os mesmos erros, que é esse cenário de extração de recursos públicos”. Paulo Rabello acredita que quando assumiu o Ministério da Economia, Paulo Guedes, tinha boa vontade e vontade de acertar, mas não fez o dever de casa. Ele entrou no governo, segundo o economista, achando que iria se sair bem na prova, mas não foi o que aconteceu nem com ele, nem com a sua equipe, que não conhecia a máquina pública e não estava preparada para assumi-la. “Eles acharam que iriam se sair bem nessa coisa que se chama máquina pública”. Ele entende que em 2022, o Brasil, mais uma vez, “não vai nos atrair”. Mesmo com esse cenário pouco animador, Paulo Rabello acredita que será comemorada a esperança, “não se sabe ainda com que nome que o eleitor vai entender que será a grande resposta para o país”. Para Rabello, não existe ninguém no cenário atual preparado para dar as respostas que o país precisa. (Foto reprodução internet)