O mês de janeiro está terminando com a sinalização de queda no preço dos combustíveis, em especial do etanol. Mas essa redução poderia ser até maior, segundo o presidente da Siamig, Mario Campos (foto), que também observa que os empresários do setor não foram chamados para discutir a PEC dos Combustíveis, que pode ser um dos temas principais no início dos trabalhos no Congresso Nacional nesta semana ou, ao contrário, nem entrar em debate diante dos recuos do governo em relação ao tema. Por outro lado, as chuvas têm ajudado o plantio da cana-de-açúcar e os problemas enfrentados no ano passado, como seca e geadas, não devem se repetir nesta safra.
Com que perspectivas os empresários do setor estão trabalhando?
Esse verão está bem diferente do que vimos no último verão. Estamos vendo chuvas adequadas nas regiões produtoras e isso tem um efeito muito positivo para a cana-de-açúcar. Para nós esse é um momento de chover, esse é o momento de fazer calor para que a cana possa desenvolver e, dessa forma, termos boa produtividade ao longo da safra que vai se iniciar em abril. Estamos vendo algo diferente. Mas, nós viemos de um ano em que tivemos seca, geada, incêndios e ainda tem muito canavial com falha. O que é um canavial com falha? É quando ele tem algumas áreas que não replantou e isso, obviamente, impacta a nossa produtividade. Não dá para falar qual vai ser o tamanho da safra, seja aqui em Minas ou na região centro sul, onde se concentra a maior produção de cana do Brasil. Mas já dá pra dizer que a perspectiva é de uma safra maior do que ano passado. Isso vai refletir em maior produção dos nossos produtos, seja etanol, seja açúcar, seja energia elétrica. Nós temos condições de ter uma maior produção dos nossos produtos.
Uma maior produção significa preços melhores para o consumidor?
Temos que ter muito cuidado para falar de preços. Acho que já poderíamos ter preços melhores, porque nós tivemos, desde novembro, uma queda acentuada dos preços na produção, que caíram cerca de 60 centavos e nós não vimos toda essa queda chegando nos postos revendedores. Nós não vimos essa queda ser repassada até chegar lá na ponta, que é o posto. Mas não podemos dizer que não foi o posto que não estava repassando. Ele o lucro pode ter ficado na distribuidora, no intermediário, em alguma intermediação. De fato, hoje, a usina está vendendo mais barato em cerca de 60 centavos e na bomba a gente só viu cair 30 centavos. Nas últimas semanas estamos vendo outras reduções então, acho que ainda tem um espaço forte para a queda. Nós já temos, por exemplo, etanol na região do Triângulo abaixo de R$ 5 e em Belo Horizonte ainda não temos etanol abaixo R$ 5. Já demonstramos que em algumas cidades essa queda chegou um pouco mais rápido. Quem sabe nas próximas semanas vamos ter o etanol abaixo de R$5 em Belo Horizonte? Aí o consumidor vai poder ser um pouco mais beneficiado.
A venda direta para os postos pode ser benéfica para o consumidor?
A venda direta já está valendo. Como é um modelo de negócio diferente, muito novo, ela ainda está muito incipiente. Mas acredito que em algumas localidades próximas às unidades produtoras, nós poderemos ter algum tipo de benefício sim. Mas aí vai depender do negócio a ser realizado, da vontade do posto e da vontade das usinas. Não é uma opção obrigatória, é uma alternativa, mas existem ainda algumas dúvidas sobre a questão tributária, porque acabou que a lei publicada teve alguns vetos, que deixam ainda algumas dúvidas no processo. Mas já há promessa do governo de equacionar isso nas próximas semanas.
O governo tem falado na PEC dos combustíveis. Que reflexos ela pode ter e o que é que está chegando para os empresários do setor?
Nós não vimos nenhum texto sobre a PEC, só insinuações sobre possibilidades do que vai estar escrito. A notícia que saiu é a de que o governo tinha recuado. Não sabemos se o próprio Congresso vai ter iniciativa sobre o processo, dado que o tema está na pauta. O fato é que parece que a proposição não poderia ser do Executivo em ano de eleição. Ela deveria ser do Congresso, então, não sabemos se vai nascer ali no Congresso uma proposição de alguma relacionada, seja a redução tributária, ou a possibilidade de que seja a constituição do tal fundo para amortizar as variações. Não vimos texto algum, então não dá para termos opinião sobre algo que está só no campo da ideia. Quando tivermos um texto, aí vamos poder nos posicionar. A nossa preocupação não é só com o mercado, é um país mesmo. Como é que é o mercado financeiro, por exemplo, veria a alteração sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal. São dúvidas de todo mundo e essas questões estão sendo colocadas na balança. Outra preocupação que temos é pelo lado ambiental. Qualquer decisão – obviamente eu não sei, eu não vi o texto, ninguém viu- nós acreditamos que hoje, em 2022, é preciso ter não só a questão social sendo olhada, a questão institucional do próprio país com as suas leis, mas também a questão ambiental precisa ser muito bem pensada. Essas questões tributárias modificam as percepções, elas modificam os preços e as percepções do consumidor sobre os produtos. Acho que nós precisamos evitar qualquer tipo de alteração, que mudem essas percepções já consolidadas. Aquela história do combustível renovável ser menos tributado do que o combustível fóssil, que é a realidade hoje do Brasil, ela precisa permanecer pelo menos como uma condição, pela preocupação ambiental.
E não penalizar quem está fazendo o que é certo, não é?
Nessa questão da penalização, nós não sabemos os efeitos, porque não vimos o texto e não sabemos quais seriam os efeitos dessa possível intenção, se ela for concretizada, sobre o mercado. Mas sou bem otimista no sentido de saber que no Congresso nós temos pessoas muito sensatas, que vão saber equilibrar esses dois objetivos, que é o objetivo de apresentar uma alternativa do que está posta hoje, junto com o objetivo de não modificar essa estrutura, já colocada há algum tempo, onde o Brasil definiu que por ter o etanol, ele privilegia o combustível renovável e limpo em detrimento do combustível fóssil. (Foto reprodução internet)