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Sem profissionais qualificados não vamos crescer

Paulo César de Oliveira
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É assustador o resultado da pesquisa da Confederação Nacional da Indústria-CNI, que mostra as dificuldades das empresas em encontrar pessoal qualificado para suas atividades. Em alguns setores específicos, o número é alarmante: 96% das empresas pesquisadas indicaram que não conseguem captar no mercado os profissionais que precisam. Isto num país que tem mais de onze milhões de desempregados e outros milhões em atividades informais. Se estes números assustam, chega a causar indignação a passividade do governo e da sociedade diante de um problema que pode inviabilizar a retomada de nossa economia nos próximos anos. O desenvolvimento tecnológico no mundo já não aceita profissionais formados na escola da vida. Aquele técnico que, ainda criança, foi colocado pela família para trabalhar com alguém mais experiente para aprender a profissão. Eram os profissionais formados na vida. Hoje isto não existe mais. O setor produtivo, até no campo, exige profissionais preparados, com conhecimentos técnicos sólidos em suas áreas. Gente que o Brasil não consegue formar, seja pela má qualidade do nosso ensino- outra constatação dos estudos da CNI- seja pela baixa oferta de oportunidades de ensino técnico, fruto do descaso histórico com esta área. O Brasil é um país de doutores. Desde que inicia sua vida escolar a criança é direcionada para o vestibular, para buscar o “diploma de doutor”, fixação dos mais ricos e da classe média, hoje atingindo também os mais pobres graças aos programas de financiamento estudantil e a proliferação das faculdades pelo país. Temos, segundo levantamentos que se encontra na internet, quase duas mil e quinhentas escolas de ensino superior, com perto de 400 mil alunos nos mais diferentes cursos. Na outra ponta, as escolas técnicas não passam de 700, com poucas vagas ofertadas. E ainda tem gente no governo federal querendo impor cortes ao Sistema S, o maior ofertante de vagas de ensino técnico, de alta qualidade ressalte-se, no país. É hora de revisarmos o ensino brasileiro. O foco do ensino não pode ser ideológico. Escolas cívico-militares, como as lançadas agora pelo governo federal, não podem ser prioridades. Precisamos de escolas que preparem profissionais de qualidade. Mão de obra de excelência. E isto exige mudança no ensino desde o início da escolarização. E isto exige conscientização da sociedade que precisa enxergar que a realização profissional não passa necessariamente por um diploma de curso superior. As pessoas podem ser felizes e financeiramente realizadas, sendo um técnico. Por que ser engenheiro mecânico, se o desejo é ser mecânico apenas? Esta é uma, queiramos ou não, pauta urgente para debate. Precisamos tomar consciência, e os estudos e pesquisas divulgados por entidades conceituadas mostram isto, que não estamos preparados para o crescimento. Imaginávamos que em 2019 teríamos índices sólidos de retomada econômica. Não foi bem assim. E as projeções para este ano mostram que não avançaremos muito. É o momento ideal para o debate. Precisamos estar preparados para darmos velocidade ao trem do desenvolvimento. Para isto precisamos de gente capaz, preparada. E isto infelizmente não temos.

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