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Um tombo maior do que o esperado

Paulo César de Oliveira
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O Produto Interno Bruto (PIB) – soma de todos os bens e serviços produzidos no país – teve queda de 3,8% em 2015, a maior desde o início da série histórica atual, iniciada em 1996, na série sem ajuste sazonal. Os dados relativos ao fechamento da economia brasileira no ano passado foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), juntamente com o resultado do PIB do 4º trimestre do ano passado, que fechou com redução de 1,4% na série com ajuste sazonal na comparação com o trimestre anterior. Em valores correntes, o PIB fechou o ano passado em R$ 5,904 trilhões. A retração da economia em 2015 reflete retrações em praticamente todos os setores da economia, com destaque para Formação Bruta de Capital Fixo (investimento em bens de capital), com queda de 14,1%. Os dados divulgados indicam também quedas significativas na Indústria (6,2%) e nos serviços (2,7%). O único setor avaliado que registrou crescimento no período foi a agropecuária, com crescimento de 1,8%. Ao contrário das exportações de bens e serviços que cresceram 6,1% em 2015, as importações de bens e serviços fecharam com retração de 14,3%. Com o PIB de R$ 5,9 trilhões em valores correntes, o PIB per capita do país fechou em R$ 28,876 mil, o que representa queda de 4,6% sobre 2014.

 

Patrões e empregados lamentam a queda do PIB

A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) atribuiu no recuo do Produto Interno Bruto (PIB) ao governo. Para a entidade, ele não pode ser atribuído ao contexto internacional. “Deve-se aos erros cometidos nas decisões políticas e na condução da economia: temos um governo caro, pesado e intervencionista, que não toma medidas para controlar seus gastos e deseja aumentar os impostos”, diz nota distribuída ontem, logo após a divulgação do PIB de 2015. A Fiesp credita à crise política o desempenho ruim do PIB. “É preciso resolver a crise política e tomar as medidas necessárias para que a economia entre num ciclo virtuoso de crescimento do consumo, de investimento, de emprego e de renda”. Para a Força Sindical, o resultado implicará resistência ao aumento real no salário no próximo ano. A segunda maior central sindical do país prevê enorme impacto negativo no poder de compra dos trabalhadores e aposentados, conforme nota divulgada nessa quinta-feira. “Não haverá aumento real de salário mínimo para milhões de trabalhadores e aposentados no ano que vem, além de ser uma trava nas campanhas salariais neste ano. Ou seja: ao permitir que a economia ande para trás, o governo prejudica os menos favorecidos e impede uma justa distribuição de renda”, disse em nota.

 

O otimismo do Ministério da Fazenda

Depois de cair 3,8% em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) se estabilizará no terceiro trimestre e pode voltar a crescer no último trimestre do ano, informou o Ministério da Fazenda. Em nota, a pasta diz que vários fatores que contribuíram para a maior recessão em 25 anos se repetirão com intensidade menor em 2016, arrefecendo os efeitos da crise. “Vários desses fatores não devem se repetir na mesma intensidade em 2016, de forma que, após ter absorvido plenamente seus efeitos, a economia poderá se estabilizar no terceiro trimestre e apresentar crescimento positivo a partir do quarto trimestre deste ano”, destaca o texto. O ministério cita cinco causas para a queda da atividade econômica no ano passado: a queda dos preços das commodities (bens primários com cotação internacional), a crise hídrica que resultou em problemas de abastecimento no primeiro trimestre de 2015, os desinvestimentos da cadeia de petróleo, gás e construção civil, ocasionados pela reestruturação da Petrobras, o tarifaço que realinhou preços administrados (como energia e combustíveis) e o ajuste macroeconômico (com corte de gastos públicos e aumento de juros).De acordo com a nota da Fazenda, o governo está tomando todas as medidas necessárias para retomar o crescimento em bases mais sustentáveis. A pasta informou que, assim que as medidas produzirem efeitos, será possível recuperar a economia, com geração de renda e de emprego. O ministério mencionou várias medidas postas em prática nos últimos meses para estimular a atividade econômica e reiterou que está propondo uma série de reformas estruturais para melhorar a competitividade e amenizar problemas que há muitos anos afetam o país.

 

Esforço fiscal

O Ministério ressalta que está comprometido com o esforço fiscal. As medidas de ajuste atingiram 2,3% do PIB em 2015, dos quais 85% estão em medidas de contenção de despesas e 15% em aumento de tributos e recuperação de receitas. “Esse trabalho está mantido em 2016, com o contingenciamento de R$ 23,4 bilhões das despesas discricionárias [não obrigatórias] previstas na Lei Orçamentária Anual”, acrescenta o texto. O comunicado destaca ainda o pacote fiscal a ser enviado ao Congresso Nacional ainda neste mês, que pretende introduzir um limite para o crescimento dos gastos públicos e mecanismos de reversão da tendência de crescimento da despesa em relação ao PIB. Em contrapartida, o governo pretende pedir autorização para reduzir a meta de resultado primário neste ano e permitir um déficit de até R$ 60,2 bilhões. Em relação às medidas de estímulo, o ministério informou que negocia o alongamento da dívida dos estados, o que dará folga ao caixa dos governos locais. Em contrapartida, os estados terão de introduzir medidas para reduzir o crescimento das despesas. “A renegociação criará espaço fiscal de curto prazo, permitindo novos investimentos e, ao mesmo tempo, aperfeiçoará os mecanismos de controle fiscal.” A Fazenda também destacou o remanejamento de R$ 83 bilhões em crédito, anunciado em fevereiro, para linhas de capital de giro, financiamento imobiliário, construção civil e crédito ao consumidor. Os recursos foram transferidos de linhas subutilizadas para linhas com maior demanda. A pasta citou ainda os planos para ampliar os investimentos privados em infraestrutura e melhorar as exportações, como os planos de Investimento e Logística, que prevê a concessão de aeroportos, rodovias e portos; de Investimentos em Energia Elétrica e Nacional de Exportações. A Fazenda lembrou a também a Medida Provisória editada na quarta-feira, que aumenta para 49% a participação estrangeira nas companhias aéreas nacionais.

 

Paulo Haddad diz que vivemos um processo de decadência econômica

Ao contrário do Ministério da Fazenda, o ex-ministro Paulo Haddad (foto) prevê uma situação ainda pior na economia do país, que deve se estender até 2018 ou 2019. Vivemos, segundo ele, um “ processo de decadência econômica”. A declaração foi após tomar conhecimento de que a economia brasileira encolheu 3,8% em 2015 na comparação com 2014, segundo dados do PIB divulgados pelo IBGE. É o pior resultado em 25 anos. Para o ex-ministro do governo de Itamar Franco, a recessão começou em 2014 com os fracassos dos modelos político e econômico. Mas antes, ainda, no governo Lula, foram tomadas sucessivas medidas equivocadas e um erro foi puxando outro até chegarmos a situação atual. A situação está ruim, mas Paulo Haddad acredita que vai piorar ainda mais e o desemprego deve atingir 15% dos trabalhadores e 25% dos jovens.

 

Fiemg critica manutenção da taxa Selic

O presidente do Sistema FIEMG, Olavo Machado Junior, criticou a decisão do Copom de manter a taxa Selic em 14,25%, afirmando que foi uma grande decepção para a indústria mineira. “Apesar das previsões unânimes dos economistas de desaceleração da inflação neste ano, e em meio a uma das piores recessões da história do Brasil, com a consequente piora do desemprego, o governo responde a essa situação desesperadora com medidas de elevação da carga tributária”. A redução agressiva, segundo o presidente da FIEMG, seria uma estratégia muito mais adequada pelo seu potencial de estimular a atividade econômica. Olavo Machado encerra a nota afirmando que “é irônico pensar que a quase 230 anos, na Inconfidência Mineira, um grupo de brasileiros notáveis se revoltou contra uma carga tributária muito inferior à atual. Em comum com aqueles tempos distantes, temos hoje a desconfortável sensação de que nossos impostos não retornam como benefícios palpáveis à maioria da população, servindo apenas para financiar o bem estar de uma minoria privilegiada. Essa situação tem que mudar”.

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