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A Lava Jato freou a roubalheira. Sem ela, a situação estaria pior

Paulo César de Oliveira
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Para as empresas que trabalham no setor de petróleo e gás, o escândalo de corrupção na Petrobras, revelado pela operação Lava Jato, os impactos da crise econômica vieram mais cedo. Muitas dessas empresas tiveram pedidos cancelados, e muitas vendas feitas não foram pagas. Mas, o pior, foi o aparelhamento para o roubo na Petrobras, segundo o diretor executivo de Petróleo e Gás da Abmaq, Alberto Machado (foto). Mas, se por um lado o juiz Sérgio Moro colocou um fim a corrupção na estatal, por outro, os empresários do setor esperavam uma solução diferente da aplicada pelo atual presidente da empresa, Pedro Parente. Para Alberto Machado, as empresas brasileiras ficaram enfraquecidas nesse processo.

 

Para o setor, 2016 é um ano para ser esquecido?

Será difícil de esquecer. O problema não começou em 2016. Na realidade, em 2016 houve o agravamento dos efeitos da crise. Antes, a Petrobras começou a ter problemas de caixa e redução nos seus investimentos, até chegar à instabilidade do corpo gerencial para cumprir compromissos e tomar decisões, porque, em dado momento, todo mundo ficou pressionado pelo medo de ser envolvido em algum esquema que hoje está sendo apurado pelo juiz Sergio Moro. Toda essa dificuldade trouxe para o mercado um efeito dominó em que, em alguns casos, foram investimentos que pararam de ser feitos, compras que pararam de ser feitas e também com muitas compras que foram feitas e não foram pagas. Pior do que não vender é vender e não receber. E muitas dessas empresas que estão envolvidas na Lava Jato tiveram o bloqueio de pagamentos da Petrobras, até por razões judiciais e, em consequência, elas não pagaram os fornecedores que nós chamamos de terceiro elo, que são os fornecedores de máquinas e equipamentos. O primeiro elo é a companhia de Petróleo, o segundo elo são os grandes estaleiros e os contratantes e o terceiro elo acaba ficando refém da possibilidade de receber e, muitas vezes, não é nem a Petrobras que não está pagando, é o próprio contratante.

 

A Lava Jato ao desvendar esse esquema de corrupção acabou causando também um estrago?

A Lava Jato não fez estrago nenhum. Os estragos foram causados pelos maus gerentes, pelos maus políticos e maus empresários que são ladrões. A Lava Jato freou. Se não houvesse a Lava Jato, a situação iria se agravar ainda mais. O problema todo, o pior problema, não foi o roubo, foi o aparelhamento para o roubo. Em uma estrutura como é a Petrobras, que tem uma tradição, um corpo formado por excelentes técnicos, para se fazer uma coisa errada é preciso trocar a pessoa de cargo, não é? Muitos gerentes e diretores simplesmente saíram porque se recusaram a seguir certas orientações. Se você pega um funcionário que ganha R$ 7 mil e passa o salário dele para R$ 70 mil, ele vai fazer tudo. Aí vem alguém e fala que se alguém ganha mais do que R$ 100 mil ele não precisa roubar. Ele só está ganhando R$100 mil porque foi colocado lá para roubar. Esse é o ponto crítico aí. O grande erro que cometemos é o de culpar a Lava Jato pelo que está acontecendo. A Lava Jato foi a solução, porque senão estaríamos com um problema muito mais sério.

 

Com todos esses impactos, como o setor encerrou 2016?

O prejuízo como um todo é a redução no faturamento. Se olharmos a Abmaq como um todo, o setor que está praticamente normal seria da área agrícola. Mas o setor de Petróleo praticamente se reduziu a manutenção das operações, pouco foi vendido para investimentos.

 

Com esse estrago todo na Petrobras, como resgatar a confiança do investidor?

O primeiro ponto, que já está sendo feito, contrário à confiança, é mudar bruscamente, contrariando uma lógica na qual muitos empresários e investidores estrangeiros e brasileiros acreditaram. As empresas que acreditaram vieram para o Brasil, a Vallourec, por exemplo, que já investiu mais de 10 bilhões de euros, para atender basicamente o mercado de petróleo, onde vende 80% de sua produção. E se não houver este mercado? Uma coisa que surpreende é que as empresas estrangeiras defendem mais o conteúdo local do que a Petrobras. Justamente a Petrobras que sempre foi a locomotiva do desenvolvimento industrial, carregando até indústrias de outros segmentos.

 

Pedro Parente na presidência da Petrobras está frustrando as expectativas do setor?

A visão de “limpar o balanço” pelo caminho mais curto tem essa desvantagem. Se nós calcarmos a nossa produção em equipamentos estrangeiros, nós vamos ficar iguais á Nigéria, Angola, Venezuela onde o dinheiro, quando entra, vem em forma de equipamentos. Um investimento que vem de fora já com os equipamentos, não adianta nada. Se a política atual não for mudada, ela vai levar o Brasil a ser só um exportador de commodities. Outro ponto fundamental é saber onde a população vai trabalhar. Nós estamos vendo que tem um monte de ações em andamento que tiram a necessidade de mão de obra.

 

Essa instabilidade política também prejudica?

A estabilidade política é a base. E hoje nós temos uma tendência a ter o governo cada vez mais voltado para o Legislativo. Tudo passa pelo Congresso Nacional. As pessoas têm que acabar com a ideologia burra e pensar no resultado. Essa questão de que o petróleo é nosso, isso não existe. O que acontece é que nós temos uma vida útil do petróleo de uns 30 anos e isso não é nada. Depois teremos questões ambientais agravadas, o combustível fóssil vai ser deixado de lado, virão os carros elétricos, os híbridos e vai diminuir o consumo do petróleo, que vai deixar de ser matéria prima para muita coisa.

 

Os empresários do setor iniciaram um movimento no final de 2016, o ‘Produz Brasil’, com que objetivo?

Primeiro é o de mostrar a importância da indústria brasileira, o que foi investido, o que nós vamos perder. Tem muitas empresas no Brasil que são multinacionais. Elas vão vender tanto daqui do Brasil, como de outros países. Movimentar uma fábrica é muito fácil. Se uma fábrica vai para o Paraguai, por exemplo, ela tem condições de trabalho muito mais baratas do que aqui. Se essa fábrica não conseguir vender para o Brasil ou Paraguai, ela vai para a China.

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