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Cartão de crédito é bom, mas não é dinheiro

Paulo César de Oliveira
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Um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo mostra que mais de 57% das famílias brasileiras está endividada, e 76,8% delas apontaram o cartão de crédito como principal forma de endividamento. A falta de organização, acreditar que cartão significa dinheiro, os compradores compulsivos e a inadimplência ocasionada pela crise, estão entre os problemas detectados como causas da inadimplência. Para a orientadora financeira e diretora responsável pela Fharos Contabilidade & Gestão Empresarial, Dora Ramos (foto), uma das razões que levam a pessoa a se endividar é a falsa sensação proporcionada pelo cartão de crédito. Mesmo com a conta bancária zerada ou negativa, ela disse que muitos pensam que ainda têm dinheiro.

 

O brasileiro não sabe usar o cartão de crédito?

O que tenho observado, e as pesquisas têm corroborado com essa observação, é que o brasileiro usa o cartão de crédito como sendo dinheiro e usa o cartão como se fosse um recurso na mão. O cartão de crédito é a possibilidade de compra e que no fundo, representa uma dívida. É um crédito que é concedido, não é um recurso que a pessoa tem. Se a pessoa tem um cartão com limite de R$ 10 mil e ganha R$ 5 mil, significa que ela terá um problema se usar os R$ 10 mil. Esse é o mau uso do cartão.

 

É um erro das operadoras oferecer um crédito tão acima dos salários?

Acredito que a forma como o crédito é concedido é um tanto quanto sem lastro e respaldo na realidade financeira. Além disso, qualquer pessoa pode ter um cartão. Com um salário de R$ 2 mil, ela pode ter cinco cartões com bandeiras diferentes com limite de mil reais, que é superior à renda pessoal. São plataformas de controle diferenciados. Se fossemos usar a máxima de que a pessoa pode ter no máximo 30% do valor do salário em crédito, de todas as bandeiras, não seria um problema. Mas ela pode pegar 30% de um cartão, mais 30% de outro banco, e, na medida em que começa a pagar, a operadora começa a aumentar o limite. Não há o interesse em deixar a pessoa endividada, porque senão, os cartões vão ficar sem receber, a forma e controle é que é equivocada. Por outro lado, a operadora do cartão oferece o credito, ela não obriga ninguém a pegar. Essa é uma questão de maturidade e consciência.

 

O parcelamento é um atrativo para contrair mais dívida?

O parcelamento é um atrativo porque quando as pessoas parcelam elas, fazem um planejamento de quanto vão pagar e na medida que fazem o pagamento de forma parcelada, elas vão continuar tendo um saldo de compra. O que acontece algumas vezes, é que o parcelamento vai comprometendo a renda total, complicando o financeiro como um todo. Isso passa pela falta de planejamento. O costume que se tem, de “lá na frente vou ter um parcelamento”, então a pessoa começa tudo de novo e acaba consumindo a receita que deveria ser usada em outro gasto.

 

Qual o perfil do consumidor brasileiro?

O perfil do consumidor brasileiro é diversificado, tem pessoas que usam o cartão como sendo um meio de realização do prazer, a lazer, têm outros que usam o cartão para compras essenciais e isso também acaba comprometendo a receita, porque pagar as compras do mercado com cartão de crédito também vai afetar no planejamento, e há ainda os que usam os cartões de maneira consciente. Pelo que observei, algumas pessoas tinham saldo no cartão, sabiam que não iam ter dinheiro para pagar, compravam de tudo no cartão e quando viam que não teriam como pagar, falavam simplesmente que pelo menos compraram o que queriam. O cartão é usado por todo tipo de pessoa.

 

A crise mudou o uso do cartão?

Pelo que tenho detectado nas pesquisas, a pessoa, se tem como única forma de crédito naquele momento, ela vai usar o cartão. É uma questão de sobrevivência. Mas é um uso perigoso, principalmente porque muitos cartões estão vinculados a débito em conta. Se a pessoa paga o mínimo, se a pessoa tiver limite, em pouco tempo ela estará com o saldo devedor e inadimplente. É uma bola de neve. Qualquer loja hoje oferece cartão, não existe uma preocupação de como a pessoa vai pagar depois. Está faltando consciência de que crédito não é dinheiro.

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