A corrupção sempre fez parte da política brasileira. Desde o descobrimento até os dias de hoje, os corruptos aperfeiçoam as suas táticas de convencimento e atingem com os seus tentáculos todos os Poderes. Ninguém escapa da ganância dos que enxergam no poder público o caminho mais curto para se enriquecer. Mas na história política atual, nunca se teve notícia de algo envolvendo tantas pessoas e com um volume de dinheiro tão grande. O ex-senador e ex-vice-governador Arlindo Porto(foto), disse que falar que não existia corrupção no passado era mentira, mas no governo Hélio Garcia, por exemplo, a orientação era exonerar os que praticavam desvios e buscava-se recuperar o recurso desviado dos cofres públicos.
A política no Brasil é desse jeito desde sempre?
Há muitos e muitos anos. Já tem 15 anos que me afastei da vida pública e 23 anos que disputei a última eleição, por opção. Não quis disputar nenhum cargo eletivo. Participo ativamente, porque você também não pode se omitir. Mas eu diria que, o que está aparecendo hoje é porque avolumou bastante e quando avoluma é necessário e é preciso identificar. Eu digo que não é uma surpresa. Surpresa são alguns nomes que estão sendo apresentados e o volume daquilo que está sendo distribuído de maneira tão irregular. É triste, é lamentável o momento que nós estamos vivendo. Um consolo nós temos: há um trabalho exaustivo sendo feito pelo Ministério Público, Polícia Federal e a Justiça, dentro das suas limitações está procurando fazer o julgamento. O que é importante para o cidadão, na minha visão, é que esse processo deve ser mais célere para que as pessoas possam ter o sentimento de que a impunidade não vai acabar, mas ela vai diminuir bastante.
O senhor foi vice-governador de Hélio Garcia, essa corrupção sempre esteve presente nos governos?
Eu diria o seguinte: se existia generalizado, não era do conhecimento do governante. Dizer que não teria seria muita ousadia ou seria não falar a verdade. Tinha pressão para isto, mas a recomendação do governador Hélio Garcia era a de que nós fossemos rigorosos, não permitindo que isso acontecesse. Nos fatos que eram do seu conhecimento, eram tomadas as iniciativas que eram importantes no sentido de exonerar, de demitir e de tentar recompor os cofres públicos. Mas o que se vê agora foi a generalização e a busca, a soma, a integração de empresários, de políticos do Legislativo, do Executivo e alguns do Judiciário, é muito mais lamentável.
O político hoje entra no esquema de corrupção ou é engolido por esse processo?
Quando me afastei foi porque tinha conhecimento de parte do que acontecia. Você não conhecia detalhes, mas para conhece-los você tinha que fazer parte da “panelinha” e eu nunca aceitei participar de “panelinha”. Mas os nomes não são novidade. Vários senadores que hoje estão aí sendo penalizados, punidos ou investigados, eram da época em que eu era senador. Alguns não, vários eram da época em que eu era senador. Não digo que tive o orgulho, porque é sempre triste para alguém fazer isto, mas eu participei do julgamento quando foi cassado o primeiro senador da República, que foi o senador Luiz Estevão. Depois disto, outros três renunciaram para não serem cassados: Antônio Carlos Magalhães, José Roberto Arruda e Jáder Barbalho. Na minha época também tinha corrupção. Felizmente, eu me afastei, porque não concordava com esse tipo de situação. Não sou político de carreira, não sou político profissional, exerci o meu mandato, quando deveria exercê-lo e procurei dignificar a política e os mineiros.
A impressão que se tem é a de que, mesmo com tudo o que sido feito, no ano que vem serão os mesmos que estarão disputando as eleições.
Pelo que nós estamos acompanhando pela imprensa, são esses mesmos que estão se predispondo. Haverá renovação. Outros nomes surgirão, mas os nomes que são colocados são os mesmos e sendo os mesmos, quem sabe continuará sendo da mesma forma? Espero que o eleitor seja mais consciente, cauteloso e exigente para escolher o seu candidato. Somente o eleitor poderá mudar o quadro que aí está. Punir alguns é importante, mas nós eleitores é que temos que escolher os nossos candidatos e as surpresas sempre ocorrerão, mas precisamos fazer o nosso papel.
O senhor sente falta da política?
Sinto. Afinal de contas eu iniciei em 1983 como prefeito da minha cidade. Convivi nesse ambiente político. Mas eu me preparei para afastar. Minha família e eu nos preparamos e por isso, sinto falta daquele relacionamento e das amizades e sinto orgulho de não ter participado disso que está acontecendo.