O apoio dos eleitores aos partidos da direita tem aumentado, segundo o deputado federal Domingos Sávio (foto/reprodução internet), presidente do PL em Minas Gerais. Segundo ele, o ex-presidente Jair Bolsonaro teve um papel preponderante nesse processo ao assumir, sem rodeios, o discurso conservador. Antes dele, muitos se escondiam em partidos de centro, com temor de apoiar as pautas da direita. Bolsonaro mudou esse cenário e por isso a “lealdade” a ele, e a esperança em torno do seu nome para 2026, mesmo porque, segundo o parlamentar, a eleição só acontece no ano que vem.
Depois dessas manifestações, qual avaliação que está sendo feita? O bolsonarismo encolheu?
Eu te respondo pela minha vivência ao longo de oito mandatos e como presidente do PL de Minas, que a direita ganhou espaço. Eu estou acompanhando todo o cenário e na minha opinião, está muito claro que os números, não só das eleições passadas, mas a procura que temos de pessoas manifestando apoio à direita, aos valores conservadores, não só cresceu muito, mas continua crescendo.
Qual a explicação?
Eu tenho uma explicação muito clara para isso. O Brasil pós regime militar viveu um processo de ascensão não só da esquerda, mas era constrangedor ser de direita, porque se associava a ideia de ser de direita a aqueles que estavam, em princípio, ao lado do regime que se instalou e que se transformou em ditadura, ainda que tenha se instalado com um propósito de combater o risco de comunismo e, até com um significativo respaldo popular se instalou e se transformou num regime militar. As gerações que vieram em seguida, e eu faço parte delas, foram gerações que receberam todo tipo de informação negativa com relação à direita e positiva com relação à esquerda, como se fosse a alternativa libertadora. E, na verdade, quando a esquerda chegou ao poder, ela mostrou que defende coisas que são antagônicas aos valores que são essenciais para a história e para a cultura e para os princípios do povo brasileiro, a começar pelo próprio comunismo. No poder, a esquerda também tornou visível a defesa dos ditadores socialistas, comunistas. Ou seja, enquanto nós de direita, defendemos o direito de propriedade, eles defendem invasão de terra.Enquanto nós defendemos um combate rigoroso ao crime, eles são tolerantes com criminosos, em um nível que a própria sociedade já não aceita. Então isso tem gerado um encolhimento da esquerda, que está visível. Antes não existia a direita. As pessoas tinham constrangimento de falar que era da direita, então foram se amontoando no centro. Isso está mudando. As pessoas hoje têm orgulho de dizer que são conservadoras e estão conseguindo entender que o conceito de ser conservador não é ser retrógrado. Nada disso. Ser conservador é defender valores que são essenciais, consagrados ao longo da história da humanidade. É defender aquilo que deu certo, que dá certo e não significa que está associado a ser avesso aos avanços tecnológicos. Você vê prefeitos, governadores que são conservadores e que aplicam metodologias avançadíssimas. Os conservadores. são reformistas, querem reformar aquela coisa antiquada do Estado. São os conservadores que querem uma reforma administrativa para tornar o Estado mais eficiente, mais ágil e menos oneroso ao contribuinte. E isso começou a ficar visível. Eu vivenciei a transição de conseguirmos sair do regime militar, fui para a rua brigar por anistia para os para os presos políticos e para os exilados políticos. Lá em 1979, eu estava na faculdade, na UFMG, em Belo Horizonte e participei da criação de partidos de esquerda, de centro, como o PSDB, no qual eu estive durante muito tempo. As pessoas, quando queriam nos atacar, nos chamavam de neoliberais, porque ser liberal era uma coisa pejorativa. Como se defender a livre iniciativa fosse errado, ruim. Hoje isso mudou profundamente. Então, eu percebo claramente que isso está se consolidando como uma nova forma de pensar e, também de fazer política. É claro que o Bolsonaro teve um mérito muito grande, porque ele foi o primeiro líder nacional que abraçou essas bandeiras dizendo, eu tenho orgulho de ser de direita e de defender tudo isso. E aquilo assustou o pessoal, porque até então, ninguém ganhava com essas bandeiras. Para ganhar eleição você tem que ser de esquerda ou então dizer que é de centro-esquerda. Era esse o conceito até 2010, 2012 isso foi mudando. Quando Bolsonaro levantou essa bandeira, em defensa desses valores de direita, foi aquela avalanche de voto em 2018, quando ninguém acreditava. Ele era um azarão. O que fez o Bolsonaro explodir de voto é porque ele era um cara com um discurso brilhante. Não é porque ele tinha um grande partido. Não é porque ele fez uma campanha milionária com muito dinheiro. Não é porque ele tinha o apoio da mídia e de quem estava no poder. Houve outras questões que mexem com os nossos valores que são muito caros para nossa formação cristã, de determinados princípios, a questão da família, do direito de propriedade e a própria essência da liberdade, o direito de se defender. Então, esses valores estavam precisando de alguém que levantasse essa bandeira. O Bolsonaro conseguiu instalar uma coisa que é maior até do que o próprio Bolsonaro. Mas ele é o grande líder. Indiscutivelmente o Bolsonaro é o grande líder. Ele despertou no brasileiro a percepção de que pode ser de direita.
Bolsonaro, dificilmente vai conseguir ter condições para disputar as eleições em 2026. O PL trabalha pensando em um nome para a disputa, ou Bolsonaro vai definir quem vai disputar?
Um dos princípios fundamentais da lealdade é você estar ao lado do seu líder, especialmente quando ele mais precisa de você. E o Bolsonaro está sendo perseguido de uma forma cruel. E ele está sendo perseguido porque a esquerda reconhece que ele é uma pessoa capaz de ganhar a eleição. E aí vamos tentar pregar nele todo tipo de coisa, para tentar manter a inelegibilidade dele. Nós do PL temos clareza de que a nossa missão é defender o Bolsonaro. E o primeiro passo de defesa é de que nós não temos que discutir outro nome. O nosso candidato é Jair Bolsonaro. Bom, mas hoje ele é inelegível. Mas a eleição não é hoje. Poucas semanas atrás, a gente tinha uma lista de processos contra o Bolsonaro, como de importunar baleia, cartão de vacina, de receber joias, e mais alguns. Pelo menos uns 4 ou 5 foram literalmente arquivados a pedido do próprio procurador-geral da República, que é quem originariamente instala esses processos. E, portanto, já não existem mais. Insistem em acusá-lo de liderar um golpe que não ocorreu. E que no momento que consideram que seria o ápice desse processo, ele estava fora do Brasil. E em qualquer momento que ele teria possibilidade de, de fato, liderar alguma coisa, que foi até o dia 31 de dezembro, ele efetivamente não fez nada que pudesse levar a um golpe. Pelo contrário, ele nomeou o ministro da Defesa que o Lula determinou, e foi ele que determinou toda a transição, de abrir todos os ministérios, preparar toda a posse do Lula e foi embora. É direito dele de dizer eu não concordo. Eu não vou ficar aqui aplaudindo um presidente com o qual eu disputei. Aí alguém pode falar, mas isso seria mais elegante? Não, isso não tem previsão legal e nem houve nenhuma ilegalidade dele não passar a faixa presidencial, que é apenas um rito. E não foi a primeira vez que isso aconteceu e, possivelmente, não será a última, porque na democracia você está sujeito a ter cada dia de um jeito. O nosso candidato é o Bolsonaro? Agora temos outros nomes? A direita tem outros nomes, mas se eu te colocar qualquer um outro nome subjetivamente, alguém vai fazer leitura “então já estão admitindo que pode não ser o Bolsonaro”. Então eu te respondo dizendo, nós não admitimos que o Bolsonaro não pode ser candidato. E é por isso que nós lutamos e vamos continuar lutando contra a inelegibilidade dele.
O senhor acredita que avance?
Eu acredito. Eu fui um dos que defendi e tive essa ideia de que se parasse de obstruir e se buscasse conseguir as 257 assinaturas necessárias para o projeto ser levado à votação em regime de urgência, através do diálogo e não da pressão, porque eu entendo que não se trata de um projeto que deve ser visto como de oposição ou de situação de direita ou de esquerda. Ele deve ser visto como um projeto humanitário, de corrigir um erro grosseiro do Judiciário. E que não há nenhuma outra forma de corrigir esse erro grosseiro, a não ser através de uma ação do Parlamento. O que acontece é que não existe nenhuma possibilidade de se rever decisões ilegais. Eu não quero rever decisão do Judiciário que sejam tomadas dentro da legalidade. Mas decisões ilegais, inconstitucionais, deveriam ter um mecanismo na nossa Constituição, que possibilite rever para ter equilíbrio de poderes. Eu sou, inclusive, autor de uma PEC que cria essa possibilidade. Mas essa PEC, embora tenha sido aprovada na CCJ, não tem perspectiva de ser aprovada agora no curto prazo. E essas pessoas estão sofrendo. A coisa é tão grosseira que nem o STF tem como recuar mais. Está se falando muito na Débora. Eles recuaram para liberá-la para ficar em casa enquanto aguarda o julgamento. Mas é difícil o STF recuar na decisão do Alexandre de Moraes de condená-la a 14 anos de pena por que ele teria que rever as outras penas. Porque o caso da Débora não é menos grave, nem mais grave do que o de ninguém. O máximo que ela fez foi pichar com um batom, um patrimônio público. Os outros, o máximo que alguns fizeram, foi também destruição de patrimônio ou vandalismo. Muitos já estão condenados, como um que está preso lá em Divinópolis, um aposentado da rede ferroviária, de 65 anos de idade, está condenado a 14 anos. Não tem uma foto, não tem uma comprovação, não tem um testemunho de que ele riscou uma parede, cometeu qualquer ato contra patrimônio público ou contra a democracia. Ele estava presente, protestando, dizendo que não concordava com o caminho que as coisas estavam tomando. Esse senhor está preso e já condenado. Se nós não fizermos nada, ele vai morrer na cadeia injustamente. É pai de dois jovens, que ele acabou de criar porque ele ficou viúva aos 40 anos. Então tem coisas horríveis que só o Congresso pode resolver. Eu acredito que o projeto de anistia, por uma questão humanitária, que ele possa avançar e ser aprovado. É claro que a gente pode também começar a acreditar na possibilidade de um ambiente para uma pacificação nacional, das coisas serem discutidas com maior equilíbrio. E é o que eu desejo.