A empresária Érica Drumond (foto), que é presidente do BH Convention & Vistors Bureau, está a todo vapor. O setor hoteleiro é um dos que está respondendo mais rápido à crise provocada pela pandemia da Covid e, logo depois, os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Mas, a situação poderia estar bem melhor, se não fosse a falta de componentes industriais e dificuldade de mão-de-obra menos qualificada. A pandemia fez com que muitos trabalhadores buscassem outras atividades para sobreviver e eles acabaram por se estabelecer em outros setores.
O setor de serviço parece que é um dos poucos que está conseguindo se desenvolver. Como está a situação do setor hoteleiro?
Realmente estamos em um momento muito bom, porque tínhamos um gargalo, tanto de evento que já estavam pagos e que estão sendo realizados, quanto as grandes empresas que não têm mais as suas torres de escritório e estão fazendo mais reuniões, mais eventos, até para poder alinhar o seu planejamento estratégico, alinhamento da cultura organizacional. Então, os eventos realmente têm aumentado bastante. Mas como o brasileiro tem que ser realmente bem preparado para as adversidades, no momento em que mais precisamos de materiais da indústria, principalmente pela renovação de prédios praticamente fechados durante dois anos, que queremos reformar toda a parte de tecnologia, de telefonia, colocar fechaduras magnéticas... estou com fechaduras magnéticas que deveriam ter chegado desde fevereiro e devem chegar somente agora em outubro. Tudo com prazo de oito a 12 meses para entrega. É uma prestação de serviço que fica um pouco capenga devido a ausência da indústria com uma entrega “just in time”. O ideal seria, eu preciso de uma peça, saio e compro. Preciso de uma máquina de lavar, de uma máquina de secar industrial, a entrega de 30 dias. Não existe isso no Brasil. Hoje o prazo é de seis meses para qualquer coisa que você precisa de componente eletrônico. Não estão entregando. Aí vem o efeito da guerra. O que temos que saber é que é um momento de adversidade, que precisamos ter paciência como fornecedor, como cliente, como consumidor. Precisamos estar sempre sabendo o momento que estamos passando. Tem vezes que percebo que as pessoas ainda estão fora da caixinha, achando que a pandemia foi há 10 anos. Não, a pandemia foi há exatos seis meses atrás. Abril foi um mês terrível, com cancelamentos de eventos de novo, cancelamentos de voos. O momento é de termos uma consciência do tempo e aprender com tudo isso. Mas os eventos estão voltando grandes na cidade inteira. Belo Horizonte está pujante, está bacana. Nós temos muitos profissionais muito competentes.
E em relação a mão-de-obra?
Falta a mão de obra menos qualificada, a mais barata. Essa mão-de-obra mudou de setor e nós temos que repensar em uma outra forma de remuneração que, no Brasil infelizmente, é impossível por causa das leis trabalhistas. Mas a solução para o Brasil é a gorjeta. As empresas poderem cobrar no seu cartão de crédito a gorjeta para garçom, para camareira, para vendedor, para todo mundo. A cultura da gorjeta no Brasil ela é inexistente devido à questão tributária. Mas tem solução para tudo. O Brasil é um país também jovem, e precisamos caminhar.
Antes faltava mão-de-obra qualificada. Após a pandemia inverteu?
A gente fala que é a mão-de-obra chão de fábrica, a da cozinha, de serviços gerais, de lavanderia. Esse pessoal foi ser Uber, produtor de eventos, carregador, montador. Eles foram fazer outras coisas, porque foram dois anos sem eventos. Agora, além de estar tudo mais caro, ainda estamos com essa deficiência de mão-de-obra. Às vezes ainda corro na cozinha, ainda sirvo o cliente, porque se faltar um, ele faz falta. Temos que estar preparados para suprir qualquer necessidade que venha a ter no quadro. Mas é essa grande dificuldade hoje: a indústria e a mão de obra.
E a economia brasileira, está entrando nos eixos?
Fiquei satisfeita agora, com a manutenção dos juros, sem um novo aumento, como vinha acontecendo todo mês. Acho que tem um pouquinho do reflexo lá dos Estados Unidos, que também estava a taxa de juros e deu uma parada. Mas lá teve os juros de aluguéis, que era em torno de 2,8% ao ano até o início da pandemia, agora está 6,5% ao ano. Isso, de qualquer forma, reflete para a gente, porque somos um espelho aí da economia global. Mas os juros de 13.6%. ao ano aqui no Brasil; ainda está alto, principalmente para nós que somos grandes investidores, para tomar recursos para fazer um outro investimento é muito alto. Estou louca para abrir um outro hotel, construir um outro hotel bem moderno, bem assim luxuoso. Mas preciso esperar esses juros baixarem, porque se não retorna o investimento.
Você batalhou muito para a reabertura do Minascentro, agora que está funcionando novamente, está de acordo com o esperado?
Estou muito satisfeita e agora estou batalhando para que a gente limpe o entorno do Minascentro, limpe o entorno do Mercado Central, que é um equipamento maravilhoso. Onde o turista passa, a cidade tem que estar caprichada. Não é uma questão de estar reclamando dos serviços da prefeitura, não é só isso. O que queremos fazer agora, com o setor de turismo e serviços no centro de Belo Horizonte é uma conscientização da população, até mesmo dos moradores de rua. Não é uma obrigação só da prefeitura. As vezes falamos que vamos sair para limpar o entorno do Minascentro, fica parecendo que nós estamos reclamando do serviço público. Não é isso. Nós precisamos de patrocinadores para manter as nossas ruas turísticas limpas, floridas e que possamos ter segurança. Estou sempre na luta pela minha cidade, que eu tanto amo. Cresci aqui, fiz a minha vida toda aqui, fiz umas passeadas fora, mas agora estou de volta, não só pra refazer todo o Ouro Minas, mas também para crescer e ajudar a cidade. (Foto reprodução internet)