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Gustavo Werneck: o Brasil não é para amadores

Paulo César de Oliveira
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Gustavo Werneck

Dizem os especialistas que o Brasil não é para os fracos. Cada dia uma nova surpresa, uma nova aventura, a maioria com graves reflexos para o país. Investir em um país com situações tão adversas é acreditar que um dia, tudo pode mudar, ou que o país do futuro ainda se confirmará. Mesmo com as dificuldades, algumas grandes empresas continuam investindo no país, como é o caso da Gerdau. O CEO da empresa, Gustavo Werneck (foto/reprodução internet), ainda sem sofrer o impacto da sobretaxa imposta ao país pelo presidente Donald Trump, já falava da dificuldade para o setor produtivo e lidar com a sobreposição de Poderes no país, que para ele, traz insegurança jurídica.

Temos esse cenário no Brasil que é esse problema entre Legislativo, Executivo, envolvendo também o Judiciário.  Isso cria insegurança para se investir no país? 

Ele cria insegurança, mas eu acho que o mais complexo para nós, empresários, é, ter que lidar com todos esses atores e a gente ter de apoiar a construção de pontes entre eles. Hoje, a dificuldade de relacionamento que tem não somente a nível federal, mas a nível estadual e muitas vezes até municipal, exige uma dedicação de tempo no empresário para construir essas pontes, que antigamente não tinha. Eu percebo que a quantidade de tempo que eu, pessoalmente, a nossa equipe de relações institucionais hoje dedica, construindo esses entendimentos, é muito maior do que já foi no passado. Eu acho que, nesse aspecto, é o que a gente mais sente no dia a dia. Na prática, tudo isso vai contribuindo para aumentar o custo Brasil, que vai aumentando, está cada vez mais difícil a atividade empresarial no Brasil.  Todo dia é um problema diferente, uma burocracia diferente. Os três Poderes deveriam ter uma pauta constante de desburocratizar a atividade empresarial ou criar um ambiente de mais facilidade para se empresariar. Mas, na verdade, o que a gente percebe todo dia é uma dificuldade maior, que o empresário ele tem cada vez menos atratividade para ele investir e criar novas possibilidades em um cenário de juros alto.  Então é preocupante tudo o que a gente está vivendo, porque a economia real ela passa a ter dificuldade. O empresário que ainda tem coragem, que acredita no Brasil, como uma empresa como a nossa, ele se pergunta: vale realmente a pena empresariar ou é preferível deixar o meu dinheiro de férias no banco rendendo juros? 

Governo deveria fazer para proteger a indústria nacional? 

Eu reforço aqui que não gosto dessa palavra proteção. Falo defesa em vez de proteção. O governo federal deveria colocar mecanismos de defesa comercial, como, por exemplo, mecanismos previstos na Organização Mundial do Comércio, como antidumping, trazendo novamente, condições iguais de competição, ou seja, uma empresa chinesa deveria entrar com aço no Brasil, competindo de igual para igual com a Gerdau para provar que quem é melhor sobrevive.  Por exemplo, vou conversar com um CEO de uma empresa chinesa e quando eu pergunto para ele sobre custo do dinheiro, ele nem sabe do que eu estou falando. Eu para poder colocar um investimento para produzir, montar capital de giro, eu tenho um custo financeiro, tem um custo de capital. Em qualquer país do mundo, o empresário tem que considerar o custo de capital nas decisões empresariais que ele toma. O CEO de uma empresa de aço chinesa nem sabe do que estou falando. Ou seja, isso não é uma competição leal, porque o Estado está financiando tudo com dinheiro público.  O que o governo brasileiro deveria fazer dentro dos mecanismos de defesa comercial previstos na Organização Mundial do Comércio, era fazer análises de dumping mais rapidamente. Uma vez identificado os danos, colocar tarifas adicionais. São coisas simples como essa, mas o que a gente tem visto é muita lentidão do governo federal, não só no setor de aço, mas em outros para trazer essa competição para um patamar novamente de igualdade.

Depois de 20 anos fora do Brasil, você está retornando a Belo Horizonte. É bom voltar para casa?

Para mim não teve nada melhor na minha vida dos últimos anos, que voltar para casa. A cidade é acolhedora, fomos recebidos pelos vizinhos oferecendo um bolo de boas-vindas. Meus filhos se adaptaram bem na escola. Mas acho que os empresários poderiam ajudar mais a cidade. Belo Horizonte, por exemplo, hoje é a cidade, é a capital brasileira com maior número de moradores de rua por habitante, a maior disparada. O prefeito atual, ele está agora trabalhando com informações para tentar resolver a questão, porque tem uma parcela da população que quer continuar vivendo na rua, mas boa parte não está querendo. São Paulo, por exemplo, venceu essa etapa. No Rio Grande do Sul, fizemos um trabalho muito legal com o governo do Estado quando houve as enchentes do ano passado. Nós fizemos um trabalho com o Acnur, que a agência de refugiados da ONU. Elas montam aqueles acampamentos de refugiados quando acontecem os grandes conflitos mundiais no mundo. A Gerdau entrou com recurso financeiro. A gente foi tirando essas pessoas na rua, fizemos um cadastramento e aí descobrimos que a pessoa tem um parente, criamos uma alternativa de renda e fizemos um trabalho nesse sentido.  

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