A CEO do Grupo Tauá de Hotéis e Resorts, Lizete Ribeiro (foto/reprodução internet), é um exemplo de mulher no mundo dos negócios. Esse não é um trabalho novo para ela, que acompanhou o desenvolvimento do Grupo, desde pequena. Hoje, acumula uma experiência de 30 anos na empresa, conhecendo todos os meandros da atividade e acompanhando a evolução desse ramo da economia, que só cresce. Mas ela também sabe que uma mulher precisa de gastar mais energia para conquistar seu lugar.
No ramo da hotelaria, um grande grupo tendo à frente uma mulher. Como é atuar nessa área?
O ramo de hotelaria é um ramo de acolhimento. De gente, de servir. Eu estou nesse ramo há 30 anos. Nos últimos anos houve uma mudança muito grande, assim como em todos os setores. É claro que o machismo é muito presente, por mais que a gente não acredite. Ele às vezes é velado. Existe um viés inconsciente muito forte, mas o que eu sinto é que as mulheres têm que gastar mais energia para se posicionar e para conquistar o seu lugar. A partir do momento em que a gente conquista, que a gente se posiciona que é coerente e tem posições firmes, a coisa vai cedendo. Mas é uma energia muito maior que a gente gasta, não só no meio do turismo, mas principalmente no meio financeiro. Então, é um trabalho que a gente constrói dia a dia.
Esse ramo sofreu muito com a pandemia. Como é que está sendo esse recomeço? O pior já passou?
Sofremos muito com a pandemia. É um processo de recuperação, mas estamos muito bem, porque o hotel está muito bem, o Grupo está em um momento espetacular, mas a gente não pode esquecer que ficamos muito tempo fechados também. É claro que agora está muito bem, mas a marca do que aconteceu na pandemia ficou.
Muitos empresários estão tendo dificuldade porque o turista ainda está muito inseguro e esse setor é muito sensível a isso, né? Vocês estão percebendo isso?
No nosso negócio, percebe-se que existe uma insegurança também em relação ao câmbio, que dificulta muito a saída do país. Com isso, as pessoas acabam voltando para o Brasil e descobrindo o Brasil. São oportunidades que a gente tem que aproveitar e atingir o maior número de pessoas que vão ter a experiência com a nossa marca. Acho que uma coisa que a pandemia trouxe de positivo, se a gente pode dizer assim, são os brasileiros descobrindo o Brasil.
O Grupo trabalha muito com o turismo interno, no interior. Isso é um atrativo a mais?
O nosso negócio é focado em resort e hotel de alto padrão. Nos resorts, nós também trabalhamos próximo à capital, sempre próximo à capital e com área de lazer muito grande, com áreas de eventos. E temos uma outra experiência completamente distinta, que é o Grande Hotel Termas de Araxá. Ele oferece uma experiência de alto padrão, com outro tipo de gastronomia, mais focado no spa, no relaxamento. Então é muito gostoso você poder trabalhar com dois públicos completamente distintos e que buscam experiências diferentes.
O país passou por governos diferentes, com pensamentos diferentes. Para quem está investindo, é sentida essa diferença dos negócios?
Com certeza. Infelizmente, temos uma insegurança jurídica muito grande no Brasil. É um malabarismo fazer negócios aqui. Mas a partir do momento que a gente vence, acho que a gente se acostuma também com esse ambiente. E é um país de muita oportunidade. Então isso também tem que ser dito. É um país difícil, há muita insegurança de questões que a gente conquista e depois caem. Nós estamos vivendo agora o drama do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), que foi um programa criado para ser executado durante 5 anos. Esse governo que entrou agora já quis mudar através de Medida Provisória. Então existe uma insegurança muito grande e temos que lutar com isso, estar preparado para essas mudanças de última hora. Mas tem muita oportunidade. O Brasil é um país incrível para se empreender.
A reforma tributária está ajudando o setor?
O setor vai ter que rediscutir a reforma tributária através de muita conversa para tentar melhorar o que está decidido para a área do turismo. Do jeito que está agora, a reforma dificulta para nós, piora. Mas vemos aí uma perspectiva de conversas e o setor está forte. Uma coisa que a pandemia também ajudou foi na unificação das entidades do turismo. Tanto as entidades de hotelaria quanto de eventos. Houve modificação em prol do turismo. O Brasil é um país com capacidade turística, com vocação turística. Então, há necessidade sim, de rever a forma que está a reforma tributária para o turismo.
Essas questões ainda estão sendo discutidas em ano eleitoral?
Tem isso também, a reforma está sendo discutida em ano eleitoral, é difícil, mas vai ser uma coisa que vai ficar. Então a gente tem que levar isso muito a sério, independente das mudanças eleitorais. E as conversas estão sendo tocadas dessa forma, porque vai ser uma decisão perene, não é uma decisão igual a Perse, por 5 anos. É uma decisão que é uma mudança que tem que acontecer no Brasil, e que vai acontecer.
Turismo no Brasil não é só praia, tem muito para se ver?
Não é só praia. Nunca. O turismo no Brasil é capital, é turismo de negócios, é o turismo corporativo, é o Nordeste, o turismo de montanha, é o turismo cultural que é muito forte, o turismo histórico. O Brasil tem uma imensidão de oportunidades turísticas.
O Grupo Tauá está presente onde?
Hoje, nós estamos em Minas, Goiás, São Paulo e estamos indo para a Paraíba.
A infraestrutura, estradas ruins, aeroportos ruins, esse é um problema para atrair os turistas?
Essa é a nossa maior dificuldade. Temos o estado de São Paulo, que é um estado com estradas espetaculares, com a logística muito boa, mas em Minas a gente sofre muito com a logística, com as estradas, com a questão aérea. Melhorou muito, principalmente para Araxá. Hoje temos voos de Guarulhos e de Belo Horizonte para Araxá. Mas é uma busca e uma luta contínua. Sabemos do problema histórico que temos em relação as estradas e que isso vai demorar para resolver. Temos que encontrar outras soluções que não impactem os negócios. Em relação ao nordeste, estamos indo para a Paraíba. A gente não imagina, mas estamos entre Recife e Natal, com estrada duplicada, espetacular. Então, o Brasil também tem muitas descobertas positivas, mas temos um desafio grande na área de logística.
O Grupo Tauá é um grupo familiar. Como você se preparou para dar continuidade aos negócios?
No nosso caso, em que a primeira geração foi muito participativa na criação do negócio, a preparação foi quase que natural. A gente já estava lá dentro construindo juntos, então era uma questão de viver e crescer, e aprender fazendo. Para a terceira geração é muito mais estruturado. Então, foi feito um acordo de acionista e há todo um processo muito estruturado para a sucessão, de formação, de aptidão, de conhecimento técnico, de experiências profissionais em negócios como o nosso, mas de maior escala. Então a nossa preocupação é perenizar o negócio, não na família. A gente tem que perenizar o negócio para a sociedade, para a vida. Se for dentro da família, ótimo. Se não for, que o negócio cresça. O que a gente quer é que o negócio sobreviva, independente de ser um membro da família que esteja administrando ou não. Então a gente foca muito na governança profissional.
Qual é o plano de investimentos para os próximos anos e o faturamento do Grupo?
Nosso plano de investimento para os próximos anos são R$ 900 milhões. Só na Paraíba nós estamos colocando agora R$ 450 milhões de investimento. É um investimento ousado, 50% de capital próprio, 50% através de financiamentos subsidiados do Banco do Nordeste, FCO. Temos um plano bem ousado aí para os próximos anos. Em relação ao faturamento, vamos fechar esse ano com a previsão de R$ 700 milhões.