Antes mesmo da operação Lava Jato, a população já vinha demonstrando um forte grau de descontentamento com a classe política. Com o avanço das investigações as prisões e delações premidas, a situação azedou de vez. Com a proximidade das eleições municipais do ano que vem, os partidos tentam se realinhar e encontrar a fórmula para chegar ao eleitor. Mas para o cientista político Rudá Ricci (foto), a política virou uma incógnita.
Como o quadro político está se movimentando com os reflexos da crise política e econômica e com a proximidade das eleições?
Embora o Lula esteja sendo corroído na sua popularidade neste ano, ele ainda tem poder. Em dezembro do ano passado 70 % dos brasileiros achavam que ele tinha sido o melhor presidente, na pesquisa Datafolha de abril ele caiu para 50%. Mesmo assim, na comparação com os outros partidos, ele está muito bem. O segundo nome mais citado é o do Fernando Henrique, com 15%. Isso quer dizer que o Lula ainda tem um poder e um apelo popular muito forte. Essa é a incógnita maior em relação ao PT. Nas eleições municipais do ano que vem, as pesquisas a que nós temos acesso indicam que o PT vai muito bem em Minas Gerais. Possivelmente o PT vai ser derrotado em São Paulo e nos três estados do sul, mas em Minas o PT está bem, e este é um colégio eleitoral importantíssimo, é o segundo colégio eleitoral do país. No nordeste ainda não há notícia de queda muito brusca na votação do PT.
E o PMDB nesse processo?
O que está evidente é que o partido que vem se consolidando mais nesse processo de crise e que temos de fiel da balança, é o PMDB, que deve se consolidar como o maior partido nas eleições do ano que vem. Isso significa que o partido deve lançar muitos candidatos e onde tiver aliança com o PSDB e com o PT, ele possivelmente vai ser forçado a lançar candidatos próprios. O PMDB também vai ter muito financiamento de empresários. A Agenda Brasil é um acordo entre o Michel Temer, o Renan Calheiros e os empresários e isso cria uma base de locomoção e de mobilidade do PMDB, com apoio financeiro para as eleições, bem razoável.
A oposição não conseguiu avançar com a crise?
A incógnita é a oposição ao governo federal, porque a aceitação de Aécio Neves e o racha interno no PSDB, colocam um ponto de interrogação de como será a performance deles na eleição do ano que vem. O PSDB forte é o de São Paulo. O que temos, neste momento, é uma movimentação do Serra, que se aliou ao Michel Temer. Do outro lado, o Geraldo Alckmin é o franco favorito para 2018. A força dos dois, Aécio e Alckmin, passa pelas eleições do ano que vem. Em São Paulo, a candidata até o momento, que está apontando como o nome do PMDB é o da Marta Suplicy. De qualquer maneira, ela vai enfrentar dois candidatos poderosíssimos, que são Russomano e Datena. Não será tão fácil assim para o PMDB se sair bem em São Paulo. Em Belo Horizonte, quem deve definir a candidatura do PSDB será o Marcio Lacerda, que é do PSB. Talvez o Fernando Pimentel apoie por debaixo dos panos a candidatura de Sávio Souza Cruz, que é do PMDB, que por sua vez, compôs um bloco de esquerda com o PT, durante os governos do Aécio e do Anastasia. O PT, no entanto, também deve lançar candidato. No Rio de Janeiro o PMDB também deve ficar bem nas próximas eleições, e o PSOL talvez apareça com destaque. Possivelmente teremos no Rio de Janeiro um candidato dos evangélicos, um muito forte do PMDB e um candidato do PSOL. O PT no Rio deve desaparecer.
Está difícil desenhar qual cenário está se formando?
O cenário está muito em aberto. O que vem ocorrendo desde abril mudou muito o quadro político. Não digo que a situação da presidente Dilma vá melhorar. A tendência é a de que piore ainda mais. Mas a situação do PT e do Lula já esteve pior. Isso porque os outros partidos também entraram em parafuso.
E Marina Silva com a sua Rede vai interferir no processo eleitoral?
A Marina tem que colar primeiro os pedaços da Rede, que ela explodiu no ano passado. Isso vai demandar muito tempo dela e ela vai precisar se projetar novamente no cenário nacional. A questão que fica é: será que essa reorganização interna vai exigir muito tempo de negociação e vai tirá-la de uma exposição nacional? Ela vai ter que reconstruir a imagem dela como alternativa.