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Paulo Abi-Ackel: O legado do PSDB

Paulo César de Oliveira
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O PSDB faz oposição ao governo do presidente Lula, mas não uma oposição irresponsável, como a que o PT fez no governo de Fernando Henrique Cardoso, segundo o presidente do partido em Minas, deputado federal Paulo Abi-Ackel (foto/reprodução internet). O partido encolheu nas últimas eleições, mas Abi-Ackel acredita no legado da legenda na presidência da República e no governo de Minas.

Qual é a posição do PSDB em relação ao que está acontecendo, aos projetos que estão tramitando no Congresso Nacional?

O PSDB é um partido de oposição ao governo do presidente Lula. Temos uma linha de pensamento absolutamente diferente da que é pregada pelo Partido dos Trabalhadores, pelo lulopetismo, e nós temos feito essa oposição na Câmara no dia a dia. É claro que em matérias que sejam de interesse do país, o tratamento é diferente. Uma coisa é você fazer oposição ao governo, outra coisa de fazer oposição ao país e não é o caso. Existe a reforma tributária, que é uma iniciativa do Governo Federal, mas nós sabemos que ela é necessária, então, nós vamos, muito provavelmente, apoiar. Salvo algum ponto do texto que porventura esteja contra o nosso ponto de vista, mas diferentemente do que o PT sempre fez no governo do Fernando Henrique, em que entre votar com o país ou votar com o PT, o PT sempre votou com o PT, nós não. Nós fazemos uma oposição muito mais saudável para o país e, portanto, obviamente, dependendo do tema nós não fazemos da oposição um cenário de geração de caos para o país. Foi assim, por exemplo, na Medida Provisória em que o governo não tinha os votos necessários para manter a estrutura criada no dia primeiro de janeiro e o PSDB, num amplo acordo do colégio de líderes na Câmara dos Deputados, concordou em dar esse voto de confiança ao presidente Lula.

Estamos vendo uma movimentação dos governadores do Sul e Sudeste para não perder recursos, com essas reformas do governo e para marcar posição. Isso significa uma divisão do país?

Essas questões federativas, que vez por outra acontecem, elas são decorrentes dessa política de extremos, de um presidente da República que não consegue dialogar com todo o país e que tem visivelmente nichos de popularidade maior em certas regiões, como é o caso do Nordeste, e nichos menores de popularidade como é o caso do Centro-Oeste. Então, é claro que nós desejamos um país completamente diferente deste, com um presidente da República que pudesse unificar as políticas públicas em todo o país, evitasse guerras fiscais entre os Estados, que pudesse dialogar bem com o Judiciário, com o Legislativo, com a sociedade brasileira como um todo. Mas o país está dividido e dentro dessa divisão, ainda bastante radicalizada, acabam por surgir esses fenômenos federativos, essas discussões federativas que não são, no meu modo de ver, nada além de uma consequência da atual fase que o país está vivendo, em que há também uma crise institucional entre os Poderes, em que há uma crise na sociedade entre as diferentes ideologias e acaba vendo essa disputa de regiões por políticas públicas.

Esses consórcios podem levar a uma divisão maior do país?

 Eu não acredito. Acho que isso não tem uma repercussão por exemplo, no Congresso Nacional, nenhum tipo de repercussão no Congresso Nacional. As bancadas convivem com muita harmonia sejam elas do norte, nordeste e centro-oeste. O que há é um posicionamento da defesa de interesses na alocação de recursos, destinação de verbas públicas, no período que antecede a reforma tributária para a defesa dos interesses dos estados, frente reivindicações dos estados do nordeste, que por serem menores, são mais unidos entre eles. Infelizmente essa impressão de divisão ficou estratificada numa infeliz fala do governador Romeu Zema, que até se desculpou, se justificou, diz que foi mal compreendido. Não era a intenção dele causar essa impressão, mas eu não acredito em divisão. O Congresso trabalha de forma harmoniosa. As bancadas se relacionam muito bem, portanto, não tem repercussão na vida do Congresso Nacional, nem tampouco no Judiciário, nem na relação entre os próprios governadores. O meu partido tem um governador do Rio Grande do Sul, um governador do centro-oeste que é o de Mato Grosso do Sul e o governador de Pernambuco e entre eles há a mais perfeita e completa harmonia.

O PSDB encolheu muito nas últimas eleições. Ano que vem tem as eleições municipais. Como o partido vai se estruturar, inclusive para ter candidatos competitivos em cidades como Belo Horizonte e nas cidades polo em Minas?

O partido encolheu realmente. É uma fase em que o centro político brasileiro ficou espremido entre a força da direita e a força da esquerda, e isso é decorrente do surgimento do bolsonarismo em 2018 e, com o fracasso do governo, com a derrota nas eleições, o ressurgimento da esquerda com o lulopetismo. O que acontece é que você tem hoje duas forças políticas: uma posicionada em torno do bolsonarismo, outra em torno do lulismo e os partidos tradicionais, os partidos antigos como o PSDB, o MDB e outros tantos, foram ficando com seu espaço reduzido. Mas nós que somos da política, estamos acostumados a essas idas e vindas. São muitos anos acompanhando a política. Estou no quinto mandato e sabemos que a política é feita de ciclos. Tenho falado muito isso. O fato do PSDB estar momentaneamente com uma bancada menor na Câmara dos Deputados, não significa que amanhã, em 2026, nós não possamos ter êxito numa candidatura ao governo de Minas Gerais, numa candidatura à presidência da República, numa candidatura novamente em São Paulo, onde o partido permanece com muita força. Tem certas coisas que, por maior que seja, o pêndulo momentâneo da política não se apaga por tanto tempo. Nós temos um legado que não se apaga. Uma lembrança de tempos equilibrados, como foram os tempos do PSDB na presidência da República, com a estabilidade da moeda, o Plano Real, o início dos programas sociais, um período de muita paz institucional, também aqui em Minas. Por menor que o partido esteja, por menor que seja o número de prefeitos que tenha, nunca ninguém vai se esquecer que foi um período absolutamente virtuoso nos governos do PSDB com Aécio e com Anastasia, com grandes obras. Aliás todas as obras que tivemos em Minas Gerais, as grandes obras que tivemos em Minas Gerais, especialmente em Belo Horizonte, são todas elas do tempo do PSDB. Isso permite que nós possamos ter projetos independente daquilo que se pode chamar de uma bancada menor do que é hoje a bancada do PT, uma bancada menor do que é hoje a bancada do Partido Liberal, do presidente Bolsonaro. Mas isso não quer dizer que a gente não vai disputar as eleições de 2026 e em 2024 e ganhar muitas prefeituras e ganhar, inclusive, muitos governos e, quem sabe, até a presidência da República. Só um dado, uma informação importante: o PSDB diminuiu a bancada na Câmara, mas ainda é em número de prefeitos, o maior partido de Minas Gerais. Nós temos, nivelando ali bem de perto com MDB e com o PSD quase uma centena de prefeitos. Às vezes muda um pouquinho, com um prefeito que deixa o partido, outro que entra. Mas se você somar ao número de vereadores eleitos do PSDB em toda Minas Gerais, nós somos ainda o maior partido do estado.

O PSDB vai ter candidatura própria à prefeitura de Belo Horizonte?

Nós temos um nome colocado, que é o nome do ex-deputado João Leite, que está muito bem-posicionado nas pesquisas que foram divulgadas, mais forte do que muitos dos candidatos que andam aí em uma campanha mais visível. Por enquanto, porque temos ainda um ano para o início das convenções, que só se darão no ano que vem, é ainda algo que nós estamos amadurecendo, o próprio João Leite está amadurecendo, fazendo pesquisas para ver as reais condições de competitividade que ele vai ter nessas eleições. Mas é um quadro, um nome que merece respeito até porque nessas pesquisas que estão sendo divulgadas, ele aparece em algumas até na frente do atual prefeito. É algo para se considerar sim.

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