Praticamente todos os setores da economia sentem fortemente os reflexos da crise política e econômica brasileira. Mas poucos tiveram um impacto como a construção pesada. Sem investimentos do governo em grandes obras e com a recessão econômica, o impacto no setor foi devastador. Em todo o pais foram demitidos mais de 500 mil trabalhadores. Em Minas Gerais houve uma redução de 50% nos postos de trabalho, segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada, Emir Cadar Filho (foto). Uma situação jamais vivenciada pelos empresários do setor, como fala Cadar nessa entrevista.
Pode-se dizer que 2015 foi um ano perdido para a construção pesada?
Foi um ano dos mais difíceis, senão o mais difícil para a construção pesada nos últimos anos. Teve gente que trabalhou, que conseguiu alguma coisa, mas parou a obra pública, parou a obra de mineração, parou tudo. Foi um ano praticamente perdido.
Como o setor fechou 2015, com que índices?
Nós estimamos um faturamento médio 50% inferior. Em termos de demissões, esse também é o número. Nós perdemos 60 mil empregos, que responde a 50% do nosso quadro. Já tivemos outras crises, mas assim tão grave e ainda sem solução, nunca vimos. Tem vários caminhos para sair da crise, temos que sair.
E para 2016 com que números o Sicepot está trabalhando?
Como as empresas estavam muito instaladas, agora diminui o impacto. Não vamos cair mais na mesma proporção. Mas temos muita cautela. O nosso plano é o de manter as empresas vivas, estruturadas para aguardar a retomada da economia. Não vai ser um ano de ganhos, 2016 será um ano de sobrevivência.
O setor tem alguma sinalização de que pode ocorrer uma mudança?
A crise política deixa – e não é só com o nosso setor, mas com todos- qualquer reação em stand by. Na verdade, esse governo só pensa em impeachment. A oposição só pensa em impeachment. Não existe no Brasil hoje, outro assunto. Não está sendo discutido nesse momento como recuperar a economia, a infraestrutura, ninguém fala sobre isso. Nós estamos vendo a guerra política lá, com o impeachment dela (presidente Dilma Rousseff), o Cunha com os problemas dele. Nós não estamos vendo ainda uma saída. Mas eu tenho certeza que nós vamos ter. O Brasil não vai parar, não dá para parar essa locomotiva que é o país. Mas nós ainda não temos uma saída, uma definição de que nós vamos ter a partir de maio, junho, de janeiro, um investimento grande e infraestrutura. Nós não temos nada disso definido. O que está acontecendo hoje é muito pouco para a capacidade instalada das empresas e para o que nós representamos para a economia. Já tivemos uma perda de mais de 510 mil postos de trabalho no Brasil no nosso setor e isso não vira notícia de primeira página de jornal. A Fiat demite 500 e vira manchete na primeira página dos jornais. Nós somos um grande contratante no país.
Se 2016 repetir a mesma paralisia em relação a obras como em 2015, como o setor fica?
Na verdade, as empresas já estão esperando um 2016 difícil. As empresas estão se preparando para isto. Nós podemos dizer que 2015 pegou as empresas de surpresa. Em 2016 as empresas estarão preparadas para enfrentar a crise. Não vamos falar que 2016 será pior, será tão ruim quanto 2015. Isso se não acontecer nada para mudar essa situação política, uma reviravolta de investimentos na infraestrutura. Mas as empresas estão preparadas para mais um ano difícil. Pelo cenário de hoje, acreditamos que em 2017 vai melhorar. Até lá, nós temos que sobreviver e deixar as empresas sadias para quando vierem as melhoras na economia. O que não pode é ser otimista na hora ruim e nem pessimista demais.