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Senadora Ana Amélia: um Brasil cheio de problemas

Paulo César de Oliveira
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Ana Amelia

O Brasil tem muitos problemas que vão bem além das questões climáticas, segundo a ex-senadora Ana Amélia (foto/reprodução internet), do Rio Grande do Sul. Apesar de não ter conseguido a reeleição, ela é muito demandada no meio político e por autoridades em Brasília, pelo trabalho que desempenhou no Senado. Para ela, o Custo Brasil prejudica todo o setor produtivo, e a polarização na política, prejudica ainda mais o país. Mas ela acredita, que uma hora, o eleitor se cansa e muda essa situação.

A proposta de renegociação da dívida dos Estados vai resolver a situação?

Nenhuma proposta, de nenhuma área, de nenhum projeto, poderá ser o ideal. Ele é o possível dentro das condições das finanças do Tesouro Nacional e das condições das emergências que têm os Estados endividados. Isso é uma questão crônica eu diria, porque trato disso como jornalista e depois como senadora da República na legislatura de 2011 e 2019. Essa questão crônica vem de muito tempo e a gente no Brasil costuma empurrar com a barriga os problemas. Agora chegou a hora H, a hora de resolver. Evidentemente, que o caso do Rio Grande do Sul, agravado pela enchente, acabou desaguando numa solução, eu diria, quase emergencial, que alcançou também os outros estados endividados, como é o caso de Goiás e Minas Gerais, que estão numa situação muito delicada em relação as suas finanças. Vale lembrar também que, lá no passado, foi criada a Lei Kandir, que dava benefícios fiscais aos estados exportadores para estimular exatamente a vocação exportadora. Desonerava do ICMS, que é um imposto estadual, e a União compensaria essa desoneração, compensaria essa perda que o estado teria, em nome de uma causa maior, que seria fazer reservas cambiais com a exportação. Ocorre que a Lei Kandir nunca foi respeitada. Não houve nunca o ressarcimento desses créditos que os Estados teriam com a União. E isso acabou agravando ainda mais a situação dos Estados. A renegociações das dívidas, do famoso acordo feito ainda lá no governo Fernando Henrique Cardoso, criou uma situação bastante delicada para a maior parte dos Estados. E uma negociação foi boa para a União, mas não foi boa para os estados.

E a reforma tributária, com o benefício estendido às carnes?

É claro que esse é um setor que hoje é altamente competitivo. O setor da proteína animal, em toda a cadeia produtiva, seja da carne suína, carne bovina, carne de frango, pescados e outros tipos de carne, a própria questão leiteira, porque são proteínas também, todos os setores trabalharam muito para se tornarem competitivos, em uma disputa, inclusive, com o mercado internacional. Nós que somos integrantes do Mercosul, também temos problemas dentro do bloco, porque muitas vezes, vem leite do Uruguai, derrubando o preço e o produtor, que já está com dificuldades, vê aumentar, estas dificuldades na sua situação financeira que já é complicada, com a sua margem de lucro em queda. Só o setor altamente organizado, consegue mais. O produtor de leite médio e pequeno está sofrendo muito e há muito tempo. A proteína animal nunca esteve na cesta básica, nunca compôs a cesta básica. Isso é verdade. Isso é a maior realidade nova ‘conceder um benefício. Porque quando você concede um benefício, alguém tem que pagar a conta. Não tem almoço de graça.

A questão climática também é um problema para o setor produtivo?

Acho que é o maior problema dos setores, como o agro, que conheço relativamente bem, porque sempre fui defensora do agro, eu fui presidente da Comissão de Agricultura do Senado. O problema do agro, como de outros setores dinâmicos da economia brasileira, como o setor de bens de consumo, o setor de confecções, a própria construção civil, calçados, é que todos esses setores se ressentem de um problema maior do que a questão climática, que se chama Custo Brasil. O Custo Brasil hoje é, comparativamente a outros países, seja do Mercosul ou não, muito ruim. E tem um custo que não se contabiliza, que é a insegurança jurídica. Então, o que vale hoje pode não valer amanhã. Para quem está produzindo, quem é empresário, quem está fazendo um investimento, esse é um problema grave. Então, esses fatores para mim são mais graves, são mais pesados, mais preocupantes nesse Custo Brasil, do que logística, por exemplo. Nós não temos estradas, nós não temos transportes alternativos, como ferrovias. Nós abandonamos as ferrovias. Nós abandonamos as coisas boas e fomos para um rodoviarismo, que cada vez está com um movimento maior, com estradas de menos e com transporte de mais. Isso provoca acidentes e provoca o aumento do Custo Brasil. Eu diria que a questão climática vem apenas para acrescentar um peso maior ao chamado Custo Brasil.

Falando em eleições municipais, PT e PL estão se articulando para manter essa polarização na política. Eles têm mais recursos, então estão trabalhando para isso, para se fortalecer para 2026. Essa eleição pode mudar esse cenário?

Eu lamento que essa polarização crie limitações para um exercício de uma boa política. Aliás, vou recorrer a um político, que é o braço direito do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira, que é o presidente do PP e foi ministro-chefe da Casa Civil. Ele fez uma postagem nas redes sociais muito interessante, trazendo a eleição na França como um sinal de alerta, tanto para a esquerda quanto para a direita brasileira, ou seja, a radicalização é prejudicial porque ela impede que um e outro lado possam conversar. Quer dizer, a política se faz exatamente, conversando. Ideias não são metais que se fundem, mas você pode ter uma boa relação, respeitosa, cada um no seu quadrado, mas mirando o interesse maior, que é o interesse do país, não olhando apenas o seu próprio umbigo, o seu próprio interesse, exclusivamente partidário ou da sua ideologia. Isso não leva a lugar algum. Isso é uma questão realmente de limitação da capacidade que têm os líderes políticos de avançarem em busca de um país melhor. Na França, quando a extrema direita estava quase chegando ao poder, chegando com a radical, Marie le Penn, houve uma reação instintiva da sociedade e deu esse resultado surpreendente para o mundo inteiro. Política não é uma guerra com armas. Essa briga é uma coisa limitadora. Eles vão brigar tanto, que o próprio eleitor vai cansar disso também, porque esgota. A radicalização é inócua. Qual é o futuro da radicalização a não ser mostrar quem está mais forte que você, quem grita mais? Você pega as redes sociais, o que você tem é um atacando o outro. Os deputados e senadores só vivem fazendo postagens. Você não vê propostas coerentes para melhorar, por exemplo, a educação, através desse ou daquele caminho.

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