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Uma eleição complexa em que a pulverização de candidaturas pode levar a resultados não desejados

Paulo César de Oliveira
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Esta será uma eleição complexa e difícil para partidos e candidatos. O eleitor não confia nos políticos e o espetáculo criado desde a determinação da prisão do ex-presidente Lula, pelo juiz Sergio Moro, em nada ajudou a melhorar a imagem do político brasileiro que, ao contrário, pode ter saído ainda mais desgastada. O deputado federal Marcus Pestana (foto), que é Secretário-Geral do PSDB, entende que é preciso separar o sistema Judiciário da política. Ele teme que a polarização das candidaturas leve a uma situação como a que elegeu o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Lembra porém que o desgaste da classe política não é um fenômeno que acontece apenas no Brasil. Outras democracias passam pelo mesmo problema.

 

A prisão do ex-presidente Lula terá que reflexos na política brasileira?

É preciso separar as coisas. Não faz bem à democracia brasileira politizar o sistema Judiciário. São duas questões diferentes, a Justiça e a política. Não pode ter uma lei para os outros e uma para o Lula. A decisão do Supremo Tribunal Federal de negar o habeas corpus para evitar a prisão de Lula foi correta e reside numa tentativa do PT de politizar a decisão do Supremo, tentando caracterizar como uma suposta perseguição política contra o ex presidente, que já é condenado pela Lava Jato e, portanto, enquadrado na Lei da Ficha Limpa. É lógico que isso mexe com o quadro eleitoral. Nós estamos a seis meses da eleição e ele (Lula) agrega um polo de opinião que é bastante expressivo. Pelo menos um terço da população, mesmo com tudo o que aconteceu, revelava a intenção de votar nele, mas não há como haver um tratamento fulanizado, especial para o ex-presidente candidato Lula. Então, o PT terá que apresentar um outro nome e o próprio processo vai decantar a realidade. Já tem uma candidatura de extrema direita consolidada, que é a do deputado Jair Bolsonaro. A esquerda ainda está fragmentada com Boulos, Manuela, Ciro Gomes e uma candidatura do PT e o centro também fragmentado.

 

Quais as consequências dessa pulverização das candidaturas em todos os campos?

Acho que o centro democrático e reformista precisa estar atento pra não repetir erros históricos, como foi no caso da eleição de 1989, onde a fragmentação possibilitou a ida dos extremos para o segundo turno, que foi Collor e Lula. Nós temos que ter canais abertos porque, se tivermos um quadro onde haja diversas candidaturas como por exemplo: Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia, Henrique Meirelles, Álvaro Dias, a Marina Silva entra um pouco na fronteira desse centro democrático e reformista e na fronteira com a esquerda, temos Flávio Rocha, João Amoedo, Paulo Rabelo de Castro. Se houver um excesso de candidaturas é só aprender com a história e ver qual o resultado de 1989, onde Lula foi para o segundo turno com 16,6%, Collor com 32% e o Covas ficou com 11%, sendo que, candidaturas como Afif Domingues, Aureliano Chaves e Roberto Freire somaram 12%. É de se imaginar que se parcela dos votos se transferisse para o Covas, ele estaria no segundo turno, com grande chance de se vencer a disputa à presidência da República. Nós temos que ter sensatez.

 

Qual o caminho?

O Brasil começa a ter sinais positivos na economia. Saímos da maior recessão da nossa história para o crescimento de 1% em 2017 e possivelmente 3% em 2018, domamos a inflação que chegou a 10% em 2015 e hoje está no nível mais baixo desde 1998, no início do Plano Real. Temos a taxa de juros mais baixa da história da Selic, os investimentos começam a voltar. O leilão do petróleo confirma isso. Temos alguns investimentos na área da mineração. Mas esse crescimento ainda tem fôlego curto. O Brasil está precisando de estabilidade política, segurança jurídica, confiabilidade e credibilidade. As regras não vão mudar a bel prazer do governo de plantão. É preciso ter estabilidade institucional e um ataque ao déficit fiscal. As finanças públicas estão em um momento dramático. Essa é a situação de Minas Gerais. O governo federal também tem revelado um déficit nominal muito expressivo comprometendo de 10 a 8% do PIB e isso é insustentável. Não é possível manter inflação baixa e juros baixos com um desequilíbrio fiscal desse tamanho. Nós precisamos das reformas, da reforma política, da tributária e fiscal, da Previdência e esse futuro vai se desenhar a partir de 2018. Espero que nós tenhamos um presidente que espelhe o que o Brasil precisa. O Brasil está precisando de menos intolerância, menos radicalismo, menos instabilidade. O brasileiro está precisando de estabilidade, diálogo, experiência, serenidade e capacidade de produzir as reformas necessárias para o crescimento e fazer com que o país volte aos trilhos.

 

Mesmo com Lula liderando nas pesquisas, os partidos estão muito desgastados. Como devolver a credibilidade aos partidos?

Esse fenômeno não é exclusivamente brasileiro. A democracia representativa contemporânea atravessa uma grave crise em termos de vocalizar as demandas sociais e representar a população. Nós tivemos o fenômeno Trump nos Estados Unidos, o Brexit na Inglaterra, o resultado do impasse na Alemanha e na Itália, Há um desgaste do sistema político na sociedade contemporânea, onde os partidos não conseguem traduzir a vontade de uma sociedade extremamente fragmentada em seus interesses e em suas formas de manifestação. No Brasil isto está agravado pela crise econômica profunda que nós atravessamos nos últimos anos e por tudo que a Lava Jato revelou, quando o sistema político produziu dentro do PT o maior escândalo da história brasileira, que leva a uma quebra de confiança da população no sistema político. Há uma distância abissal entre a sociedade e o sistema, que afeta a todos os partidos e será uma eleição difícil.

 

Como diminuir essa distância do eleitor?

Esta será a eleição mais complexa desde a redemocratização com Tancredo e Ulysses e a partir de 1984. Nós teremos que fazer uma discussão com a população de revalorização da política como ferramenta de transformação social e não há outro caminho senão a liberdade e a democracia e nós precisamos reconquistar a aliança com a sociedade. Isso é um trabalho pedagógico dos partidos, das lideranças políticas mostrando para a população que as melhorias na qualidade de vida das crianças, dos jovens, o acesso à saúde de qualidade, o ataque ao crime organizado, a garantia de segurança pública, a infraestrutura, a moradia, o saneamento, a renda, o emprego, tudo depende de decisões políticas. Alguém vai governar o país e é melhor que a população, que as pessoas de bem, escolham bem para que possamos resgatar valores fundamentais e muito simples como a honestidade, a ética, o trabalho, o interesse público e o espírito republicano.

 

Em Minas Gerais o quadro mudou com a entrada do senador Antonio Anastasia e o MDB com candidatura própria à presidência, terá necessidade de palanque nos estados. Isso muda o quadro?

Creio que aí seria uma divisão na órbita da base de apoio à reeleição do governador Fernando Pimentel. O MDB hoje se associa ao governo estadual, que produziu uma crise inédita com débitos registrados e dívidas em todas as áreas: servidores, fornecedores, prefeituras, hospitais e agora, até com a Assembleia Legislativa. É uma situação que beira o caos e é necessário um governo que valorize a profissionalização da gestão pública, a qualidade das decisões governamentais e consiga colocar Minas nos trilhos. Nós estamos com a candidatura Anastasia colocada, dialogando com Rodrigo Pacheco, com Marcio Lacerda e Dinis Pinheiro, procurando construir um arco de alianças, que representem a mudança necessária o mais rápido possível. No MDB ainda não está claro que vai ser essa a decisão nacional, e quais os seus impactos nos estados e, particularmente, em Minas Gerais. Haverá uma candidatura Michel Temer ou Henrique Meirelles? A base do partido vai se engajar nesse projeto? É muito difícil dizer. Faltam seis meses e parece que é uma eternidade. Muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte. A política tem um tempo próprio.

 

Essas candidaturas em Minas repetem o quadro nacional de pulverização?

Acredito que não. O ideal é que a oposição construa um projeto para o futuro de Minas e esteja unida para ter um contraste claro entre o governo que deixou Minas à deriva e um projeto de desenvolvimento. É importante a maior união possível, já no primeiro turno. Se não for possível, que nós estejamos juntos, se houver, no segundo turno.

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