Blog do PCO

Aproveite o Carnaval, mas cuidado com a saúde

Paulo César de Oliveira
COMPARTILHE

O mundo acompanha com apreensão os esforços feitos pela China para conter o coronavirus. O risco de contaminação fora do território chinês pode levar a uma situação que fique fora do controle. O infectologista Rodrigo Farnetano pondera que dificilmente as grandes cidades do mundo terão condições de fazer o mesmo cerco feito pelo governo chinês. O perigo aumenta em grandes aglomerações, em festas populares como o Carnaval.

 

Em momentos de festas como o Carnaval, de grandes aglomerações, existe um risco real de contaminação?

Quando surge um novo vírus, onde a população ainda não tem imunidade contra ele, o risco é maior ainda. O risco já existe. Qualquer aglomeração humana apresenta riscos a uma série de doenças. Posso falar da gripe, do resfriado, da mononucleose, meningite, uma série de doenças. No momento em que vamos a um estádio de futebol, com 50 mil pessoas para assistir a um show, nós assumimos um risco. Ele é grande? Não. No movimento das pessoas não acontecem surtos, mas o risco aumenta para uma série de doenças. Quando nós falamos de um vírus novo, que já foi identificado e que tem uma alta capacidade de transmissão entre humanos, e as pessoas não têm imunidade contra ele, se ele estiver aqui, em uma situação dessa de festa popular nacional, o risco de transmissão, realmente é grande. Haveria uma disseminação muito grande.

 

Os cuidados que estão sendo tomados não só pelo governo brasileiro, mas por praticamente todos os países, são suficientes?

A estratégia e os cuidados que estão sendo tomados, de forma científica, podem ter opiniões para mais e para menos. A impressão que a maioria dos especialistas tem colocado é que os cuidados estão sendo adequados. Concordo com uma infectologista que disse que as grandes cidades do mundo- não estou falando só de São Paulo, da cidade do México, de Bali, estou falando de Londres, Nova York, Chicago- não estão preparadas para conter de forma efetiva um vírus muito transmissivo e novo. O risco existe de que grandes centros urbanos tenham dificuldade de conter a disseminação de um risco desses.

 

O governo da China fechou uma cidade inteira. Mas antes dessa decisão, as pessoas estavam transitando?

Sim estavam transitando, muitas vezes já contaminadas, mas ainda no período de incubação, quando elas ainda não manifestam os sintomas, mas já tem o vírus e saíram da contenção da cidade. A China tem peculiaridades culturais que permitem tomar essas atitudes, que em outros países do mundo não tomariam, não conseguiriam.

 

Na internet circularam vários vídeos alertando sobre a gravidade da situação na China, inclusive com pessoas caindo nas ruas. Até que ponto essas informações estão corretas?

Tem muitas Fake News e nós temos que tomar muito cuidado com essas informações relacionadas a saúde pública. Elas têm que ser adquiridas de fontes oficiais. Eu não posso pegar esse tipo de informação se não for de algum órgão como a Organização Mundial de Saúde, do Centro de Doenças dos Estados Unidos, da Sociedade Europeia de Microbiologia e de Doenças Infecciosas, da Sociedade Brasileira de Infectologia, que seja do Ministério da Saúde, da Anvisa. Nós temos que buscar a informação de fontes oficiais e científicas. Não vi nada de fonte oficial que falasse que estivesse havendo um bloqueio de informações. Esses vídeos são Fakes. Não está ocorrendo isso. Mas infelizmente essas notícias são as que pegam e se espalham. Ao que tudo indica, a China está se esforçando muito e fazendo várias outras ações além de isolar a cidade, construindo hospitais gigantescos em tempo recorde. A Organização Mundial de Saúde está lá, dentro da China e está havendo uma cooperação entre esses órgãos. Não me parece que estejam escondendo alguma informação.

 

O Brasil tem outros problemas também graves como a dengue, a zika e outras doenças. O governo falha no combate a essas doenças?

O Brasil tem uma série de problemas de saúde pública, doenças endêmicas como a dengue, a zika, a Chicungunya, a malária no Norte. Tivemos o problema com o sarampo, rotineiramente tem um surto de febre amarela, na forma silvestre, mas temos. O governo sabe disso, mas temos o problema não só cultural, mas econômico, educacional, de pobreza. Muitas dessas doenças estão ligadas a infraestrutura, a falta de saneamento básico, educação, higiene não só pessoal, mas no entorno das moradias, ou seja, são problemas ligados ao nível de desenvolvimento do Brasil. São doenças que costumam aparecer causalmente, mas nunca em países desenvolvidos. São problemas ligados ao desenvolvimento, que só pioraram nos últimos anos. Quem sabe agora as coisas comecem a melhorar.

COMPARTILHE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

News do PCO

Preencha seus dados e receba nossa news diariamente pelo seu e-mail.