Ultrapassamos as cem mil mortes. Ultrapassamos os três milhões de infectados. Números estratosféricos que nos colocam na incômoda posição de um dos países mais atingidos pela covid 19 em todo o mundo. Números que mostram quão irresponsáveis e despreparadas foram nossas autoridades até aqui no enfrentando do problema. Teve até quem anunciasse, ainda em março, que o país tinha atingido o pico das contaminações e que as mortes não passariam de 800, mil talvez, já bastante elevado se considerarmos que mortos não são apenas números. Têm nome, famílias, sonhos não realizados, traumas a serem enfrentados, que não terminam com a ajuda de R$ 600 para suas famílias. A fatídica marca dos cem mil foi superada. Mas, apesar disto, tem razão o presidente Bolsonaro: cem mil é apenas uma marca. E daí? Vida que segue, diz ele com desdém. Sim, vida que segue, o que não pode seguir, senhor presidente, são as mortes. Parte considerável desta tragédia que a sociedade brasileira vive hoje é de exclusiva responsabilidade de nossas autoridades que, ou demoraram a agir ou agiram com incúria. Tratamos a pandemia como uma oportunidade para firmarmos conceitos de capacidade de superação, quando não para estimular consumos, como no caso da cloroquina, ou explorar a fé fanática com a venda do feijão mágico. Desprezamos a ciência ao adotarmos tardiamente, ou com deboche, recomendações acatadas pela maioria dos países que foram atingidos antes de nós. Tínhamos exemplos a seguir. Tínhamos exemplos a evitar, como os Estados Unidos, que também desprezaram as recomendações e que acabaram servindo de modelo para os nossos governantes. Mais uma vez nos fantasiamos de “machões latino-americanos” que nada temem, que tudo superam. Ou nos fanatizamos, achando que Deus tudo resolve, desconhecendo de forma irresponsável o ensinamento bíblico do “faça a sua parte que eu te ajudarei”. Não fizemos, não fomos ajudados. Ou fomos, afinal há quem assegure que nossas vítimas estão subnotificadas. Mas, apesar de tudo, não é hora de lamentações. A pandemia aí está e com força. Impossível qualquer previsão sobre o número de vidas que ainda vai ceifar. Precisamos reagir. Deixarmos de lado nossa reconhecida e vergonhosa apatia. Assumirmos o compromisso com a sociedade, com nossa família. Há recomendações a seguir que já deram resultado em outros países que estão se recuperando. É melhor agirmos com prudência, tapando ouvidos para falsos líderes e aos irresponsáveis que põem o lucro acima da vida. Claro que é preciso compatibilizar a saúde com a economia. Mas é preciso que isto seja feito sem afoiteza, com responsabilidade. Precisarmos traçar caminhos seguros para sairmos da crise e, fundamental, avançarmos depois dela. Sem nos esquecermos de que, a opção terá que ser, sempre, pela vida.