Parece que 2016 não acaba nunca. O Brasil sofreu mais uma baixa neste domingo, com a morte do poeta Ferreira Gullar, aos 86 anos, devido a complicações pulmonares. Gullar sentiu-se mal na madrugada de 9 de novembro. Com intensa falta de ar, foi levado para o Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro. Os médicos diagnosticaram pneumotórax, a entrada de ar na pleura, a fina camada que recobre os pulmões. O problema era um reflexo do seu tempo de fumante, ainda que estivesse livre do cigarro há mais de 30 anos. Ao perceber a gravidade do seu quadro, Ferreira Gullar pediu à mulher, a também poeta Claudia Ahimsa (foto), para não sofrer intervenções que prolongassem sua agonia. Um pouco da arte de Gullar. (Foto: Ferreira Gullar e Claudia Ahimsa)
Traduzir-se – Ferreira Gullar
Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo./ Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. / Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. / Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. / Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. / Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem./ Traduzir-se uma parte na outra parte – que é uma questão de vida ou morte – será arte?