Poderia até passar por um desabafo de algum desses políticos citados nas delações de Emílio e Marcelo Odebrecht e contra os quais o ministro Edson Fachin, relator da operação Lava Jato, mandou abrir inquérito. Mas não. Trata-se do discurso de renúncia ao cargo de senador de Antonio Carlos Magalhães (foto) (PFL-BA), no plenário do Senado. Um trecho do discurso que merece ser lido com atenção: “No momento em que a maior justiça se encontrou com a maior injustiça e, no dia em que o erro supremo se defrontou com a suprema verdade, nesse dia o juiz, o representante do Poder Estatal, que era Pôncio Pilatos, em face à perturbadora fúria, em face das multidões arrebatadas, esquecendo-se dos deveres morais que incumbiam à sua pessoa e dos misteres políticos que incumbiam ao seu cargo, respondeu com estas palavras melancólicas: “Mas o que é a verdade?” Eu, no entanto, lhes pergunto: o que é a mentira?”.
E lá se vão quase 16 anos
Para entender um pouco da história: em junho de 2000, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e o líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF), foram envolvidos na quebra de sigilo dos votos da cassação do ex-senador Luiz Estevão e foram acusados pela Comissão de Inquérito do Senado de violação do sistema de votação da casa. Com base na acusação, a Comissão de Ética pediu a abertura do processo de cassação de ambos. Para evitar perder seus direitos políticos, Arruda renunciou ao mandato no dia seguinte. Em 30 de maio de 2001, Antonio Carlos Magalhães renunciou ao cargo de senador, gerando uma crise política em Brasília.