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É preciso agir contra a impunidade

Paulo César de Oliveira
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Impressiona no brasileiro a ausência da capacidade de indignação. Somos sentimentais, nos comovemos na primeira hora, mas na hora seguinte, já nem nos lembramos mais dos fatos. E com isso chancelamos a impunidade. Exemplos temos aos borbotões de casos de espanto e indignação que se transformaram rapidamente em silêncio e omissão. Só mesmo os diretamente atingidos pelos fatos ficam com sua dor. Os demais se calam, num silêncio cúmplice com a impunidade, como se, à frente, não estejam sujeitos a serem atropelados pela irresponsabilidade, habilmente transformada em fatalidade por espertos bem remunerados, com enorme capacidade de deturpar a realidade e transferir responsabilidades. A tragédia de Marina, para muitos a maior tragédia ecológica do país, é um exemplo clássico das consequências da omissão de autoridades, do silêncio de um povo, incapaz de exercer seus direitos e cobrar ações e de maus administradores que são incapazes de distinguir entre cifrões e pessoas o que realmente importa. A tragédia de Mariana foi apenas um aviso de um desastre eminente que, não levado a sério, provocou o de Brumadinho, de proporções humanas bem maiores. Pois bem, cinco anos depois, o que se vê, em relação a Mariana, é outra tragédia: a da irresponsabilidade, da impunidade. Chegaram ao desplante de retirar do processo a acusação do crime de homicídio. As mortes, segundo os espertos bem remunerados e as autoridades omissas, não foram provocadas pelo rompimento da barragem da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, mas pela inundação que se seguiu. Um argumento assim, só poderia ser acolhido mesmo num país que aceita a existência do estupro culposo, claro, em casos que não envolvam familiares de nossos gênios da Justiça. Não, simplesmente transferir para a pessoa jurídica a responsabilidade que é das pessoas físicas, dos que comandavam a empresa à época da tragédia, não atende aos anseios dos que ainda mantém a capacidade de indignação. Não, não se trata de sede de vingança contra pessoas e empresas. É preciso que haja reação. Pelo rompimento da barragem, não pela inundação que não existiria sem o rompimento. Agora o que se vê é a Vale e a BHP Billiton empurrando com a barriga suas responsabilidades, buscando desculpas para não cumprir com suas obrigações de reparação. Postergando decisões. Basta. É hora de acabarmos com a impunidade de pessoas físicas e jurídicas. Ninguém quer vingança. O que se busca é Justiça e reparação de irresponsabilidades de pessoas físicas e jurídicas. Você que se revolta com o roubo de seu celular, saiba que ele ocorre com tanta frequência por causa da impunidade que impera no país e que beneficia igualmente o pé de chinelo e a turma do colarinho branco. E assim será enquanto você não agir. Enquanto se conformar.

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