“Nada me pesa tanto no desgosto como as palavras sociais de moral. Já a palavra ‘dever’ é para mim desagradável como um intruso. Mas os termos ‘dever cívico’, ‘solidariedade’, ‘humanitarismo’, e outros da mesma estirpe, repugnam-me como porcarias que despejassem sobre mim de janelas. Sinto-me ofendido com a suposição, que alguém porventura faça, de que estas expressões têm que ver comigo, de que lhes encontro, não só uma valia, mas sequer um sentido”.
Torquato Neto, no Poema do Aviso Final
“É preciso que haja alguma coisa alimentando o meu povo; uma vontade, uma certeza, uma qualquer esperança. É preciso que alguma coisa atraia a vida ou tudo será posto de lado e na procura da vida a morte virá na frente e abrirá caminhos. É preciso que haja algum respeito, ao menos um esboço ou a dignidade humana se afirmará a machadadas”.
Sophia de Mello Breyner Andresen, no poema O Velho Abutre
“O velho abutre é sábio e alisa as suas penas. A podridão lhe agrada e seus discursos têm o dom de tornar as almas mais pequenas”.
Lembrando o velho Bertolt Brecht
“Pelo que esperam? Que os surdos se deixem convencer e que os insaciáveis devolvam-lhes algo? Os lobos os alimentarão, em vez de devorá-los? Por amizade os tigres convidarão a lhes arrancarem os dentes! É por isso que esperam! ”
Lições da literatura
Examinando os versos acima, percebemos que qualquer semelhança não é mera coincidência. No Brasil de hoje vive-se uma completa inversão de valores. No Congresso, através de leis claras e esdrúxulas, criminosos são inocentados e quem os pune ganha a pecha de malfeitores. No mundo político reina a completa desarmonia com os anseios do povo e a nação assiste, perplexa, a institucionalização de verdadeiras perplexidades jurídicas, com o compadrio do STF. Até quando teremos que assistir essa barbárie, sem esboçarmos um único sinal de revolta? Como o povo, através do ditado popular, já dizia: “o trem está feio e com o buraco no meio”.