Se depender do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele fará parte de uma espécie de Conselho de ex-presidentes para colaborar com o presidente Jair Bolsonaro, na busca de alternativas para que o país possa encontrar o melhor caminho pós pandemia. A possibilidade de reunir os ex-presidentes com esse objetivo foi aventada ontem pelo diretor geral da VB Comunicação, Paulo Cesar Oliveira, durante a live do Conexão Empresarial, com a participação de Fernando Henrique Cardoso. No evento promovido pela VB Comunicação, FHC lembrou que Bolsonaro quis fuzilá-lo, mas disse que não guarda mágoa ou o ódio na geladeira, como dizem as velhas raposas políticas mineiras. Seria bom se o presidente entendesse, segundo ele, que o problema no país é grave. Se fosse ele o presidente, Fernando Henrique disse que já teria se aconselhado com os governantes que o antecederam.
Acúmulo de crises
Sociólogo e professor, atividade que disse ser a que mais gosta, Fernando Henrique Cardoso percebe que o país passa por um acúmulo de crises. É a crise econômica, a social, a política e a de saúde. É muita crise, segundo ele.” O isolamento é desagradável, mas é pior ainda para os mais pobres, que não têm onde ficar”. Para complicar, ele fala de ações genocidas, que pioram ainda mais o quadro. Para FHC, falta solidariedade da parte de quem manda. “É preciso prestar solidariedade em um momento como este. Além disso, há muito tempo o Brasil não engata uma taxa de crescimento razoável e terá problemas para se encaixar nessa nova revolução tecnológica, e muitas pessoas ficarão de fora por falta de qualificação e acesso as novas tecnologias. Após a pandemia, o desemprego deixará muita gente sem renda. Haverá tumulto, porque as pessoas precisam sobreviver”. A pobreza, segundo FHC, começa a entrar nas zonas reservadas e, o pior, as pessoas se acostumam com ela e não a percebem mais. Em algum momento, o pobre vai entender que o coronavirus veio por alguém contaminado em um avião. Ele veio dos mais ricos e atingiu os mais pobres.
Sociedade desigual
Para Fernando Henrique Cardoso temos no Brasil uma sociedade muito desigual e as decisões são tomadas de forma muito lenta. Essa é uma situação grave e gerará agitação. Mesmo não achando que as Forças Amadas tenham interesse em tomar o poder, o ex-presidente vê o ambiente político no país dominado pelo “nós e eles” iniciado quando o PT assumiu o poder, com a postura de que só o partido fazia as coisas certas, os outros não. “Esse clima prevalece no país, só que potencializado, bem mais acirrado. O presidente é partidário e vê inimigos por toda parte e quer esse inimigo liquidado”. Ele lembrou Otávio Mangabeira que comparava a democracia a uma planta tenra que precisa ser regada e cuidada sempre, sob o risco de não sobreviver. A insensatez do presidente é tão grande, segundo Fernando Henrique, que ele trocou o ministro da Saúde em plena pandemia, sem ter noção de que seus atos afetam as pessoas. “Toda semana ele diz coisas difíceis de serem digeridas pela sociedade. Agora tem a questão da cloroquina. Todas essas questões só demonstram que é preciso o presidente ter um pouco de humildade para saber ouvir”.
Tribos nas redes sociais
Um outro aspecto levantado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na live do Conexão Empresarial diz respeito ao papel dos partidos políticos no país. Na sua opinião eles não têm mais força ou poder de influenciar as pessoas. “Atualmente os grupos se formam na internet, meio que às cegas, cada um procurando onde se encaixar melhor, formando tribos, sem que os políticos consigam comandar as pessoas”. Parece, segundo ele, que o presidente ainda não percebeu que os partidos são fracos, mas que o Congresso Nacional é forte, assim como o Supremo Tribunal Federal também tem força. A briga dele com os governadores é outro erro, que o isola ainda mais, já que os governadores têm força nas bancadas federais dos estados, o que torna o presidente Jair Bolsonaro ainda mais isolado. É preciso ter preocupação com as regras, segundo Fernando Henrique Cardoso, que também considera perigosa a ideia de adiar as eleições municipais. Uma situação que se acontecer, pode se repetir com argumentos semelhantes, perpetuando as pessoas no poder. A sociedade hoje está muito fragmentada e é nesses momentos que a sociedade mais precisa de lideranças.
Agricultura e mineração
Os vários setores da sociedade têm se beneficiado com os avanços tecnológicos. O setor financeiro é um deles. A agricultura tem investido na ciência e na tecnologia e tem avançado e no mundo do futuro esse setor continuará assim. A mineração também. São os dois setores com força na economia brasileira. São as galinhas dos ovos de ouro, fundamentais e virá dos dois a alternativa para a economia brasileira, mais do que a indústria. Mas Fernando Henrique Cardoso pondera que cuidamos mal da ciência e da tecnologia e temos que colocar o Brasil pelo menos no meio do caminho. Outro aspecto importante é que houve uma alteração nas potencias mundiais. Os Estados Unidos continuam como grande potência, mas a China também avançou. Durante a pandemia, Fernando Henrique Cardoso disse que a China mostrou a sua força e ofereceu serviços para os outros países um serviço que eles não tinham. “É preciso observar bem o que está acontecendo no mundo para ajudar o país a tomar as medidas que colaborem com o seu desenvolvimento. E para tanto, FHC disse que torce para que tenhamos um líder que nos ajude a suportar os próximos anos”.
A caminho de 2022
Entre os possíveis nomes para a disputa da presidência da República em 2022, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso analisa o de Luciano Huck, nome que já defendeu e que, segundo ele, tem com o seu “caldeirão”, uma proximidade com os mais pobres. O governador de São Paulo, João Doria, é uma possibilidade no PSDB e ele já demonstrou que é trabalhador. O ex-presidente pondera, no entanto, que ele está muito focado em São Paulo. “Doria precisa ampliar seu leque e se aproximar dos mais pobres. Ao contrário de Huck, conhece bem o funcionamento das instituições, um aspecto importante para um governante”. Mas Fernando Henrique não descarta apoiar uma terceira pessoa, que se mostre capaz de unificar o país e que tenha capacidade de gestão. Na idade em que está, com seus quase 90 anos, ele disse que se dá ao direito de apoiar quem tem mais condições.
Conexão Empresarial
A live do Conexão Empresarial com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve como moderador o diretor da VB, Gustavo Cesar de Oliveira e como debatedores o ex-ministro Paulo Paiva, o presidente do Conselho do Ibram, Wilson Brumer, o presidente da Siamig, Mario Campos, a influenciadora digital Bella Falconi e o diretor geral do Grupo VB Comunicação, Paulo Cesar Oliveira. O Conexão Empresarial 100% digital é patrocinado pela Anglo American, D’Or Consultoria, Hermes Pardini, Mercantil do Brasil, jornal O Tempo, Pad, Tostes & De Paula, Unimed-BH, Usiminas, e apoio do IBRAM, JAM e KLUS. O evento conta com media partners da Band, rádio Itatiaia, Viver Brasil e BLOGDOPCO.