Não poderíamos ter deixado chegar aonde chegamos. Nossa inércia deixou que as coisas acontecessem sem limites. Perdemos nossa capacidade de nos indignarmos e assim, por acomodação, tudo fica normal. “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada” diz o poema do brasileiro Eduardo Alves da Costa. “Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada” diz o poema que é um retrato do Brasil de hoje. Estamos quase perdendo a voz, ou o direito de usá-la, e se não despertarmos, se não nos indignarmos, não agirmos agora, cobrando respeito, honestidade, seriedade e tantas outras coisas que nos negam agora, nada mais poderemos fazer por muito tempo. Nada mais seremos do que marionetes nas mãos de oportunistas. Há um ditado entre os matutos que diz “ver a botina larga e enfiar os dois pés”. A botina se alarga pelo silêncio, a omissão dos que não reagem, não protestam, não cobram compromissos. Quando vamos às urnas, vamos para eleger esperanças. Os que escolhemos são os depositários de nossos sonhos, de nossas esperanças. Esperanças que venderam nos palanques. Eleitos, não são os donos do povo aqueles que dizem o que querem mais não têm coragem suficiente para ouvir o que o povo tem a dizer. “Quem fala o que quer, ouve o que não quer”, ensina a sabedoria popular. E é preciso que o povo diga o que tem a dizer e exija, nas ruas, que seja ouvido. Não é preciso violência, que é a arma dos incompetentes, dos vassalos e dos covardes, que hoje se escondem em redes sociais para vomitar a valentia que não têm. É preciso que se grite bem alto para que todos os que têm poder de decisão, em todos os níveis de Poder, ouçam. É preciso que se fale em linguagem cara para que ouçam também os oportunistas da periferia do Poder. Ouçam que o brasileiro se cansou de ser usado pelos gananciosos, pelos que financiam campanhas para, à frente, cobrar benesses que beiram a imoralidade. Se cansou dos que têm um discurso no palanque e outro em plenário, dependendo de seus interesses pessoais. Se cansou dos que não dimensionam a importância dos cargos que ocupam e se mostram capazes de se flexionaram para sempre montados por aqueles que podem lhes trazer vantagens. É assim, cobrando, exigindo, que um dia vamos desmascarar os impostores, os falsos messias, os falsos comprometidos com as aspirações e necessidades do povo e escolher para nos liderar um líder verdadeiro. Alguém que, pela coragem, seja capaz de se fazer seguido pelo trilho do desenvolvimento não apenas econômico, mas principalmente em rumo do desenvolvimento social. Chega de impostores. No plural mesmo.
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Marly Narciso Lessa
8 de março de 2021