Os mercados devem reviver hoje o cenário de 2002 e reagir com forte pessimismo à reeleição da presidente Dilma Rousseff, que marcará 16 anos do PT no poder, na eleição mais acirrada desde 1989. A derrota do candidato Aécio Neves (PSDB), visto com um perfil mais pró-mercado, tende a provocar uma forte correção de preços, com queda dos ativos na bolsa de valores e alta do dólar e das taxas de juros futuros no pregão desta segunda. A percepção dos investidores é de manutenção da atual política econômica, que tem sido criticada principalmente em relação à parte fiscal e ao maior intervencionismo na economia. Desde 2002, os mercados domésticos não eram tão influenciados pelas eleições. Naquela ocasião, o dólar esbarrou nos R$ 4 diante de receios do que seria o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A campanha para a eleição presidencial foi marcada por alta volatilidade dos mercados, com muitas reviravoltas nas pesquisas e uma recuperação da presidente Dilma na última semana antes da votação para o segundo turno. Para o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, os mercados devem passar por um ajuste no primeiro momento, uma vez que até sexta-feira havia quem apostasse na vitória do candidato Aécio. “O Ibovespa pode cair de 5 a 6 mil pontos dos 51.716 (pontos) registrados na sexta-feira, enquanto o dólar pode encostar no patamar entre R$ 2,60 e R$ 2,70 nesta semana”, afirma. Para o sócio da gestora Quantitas, Wagner Salaverry, o Ibovespa pode cair para a casa dos 45 mil pontos em um movimento generalizado de desvalorização. Nesse cenário, as ações com maior impacto tendem a ser as que compõem o chamado “kit eleições”, composto por papéis de estatais e de alguns bancos privados, que sofreram maior oscilação durante a campanha eleitoral.Salaverry estima que Petrobras e Banco do Brasil podem ser protagonistas de uma queda entre 5% e 10% do Ibovespa somente hoje. A dimensão e o ritmo dessa desvalorização, ressalva, depende da saída do investidor estrangeiro da Bolsa, já que o brasileiro vinha mais pessimista. “Se o estrangeiro quiser fazer uma saída rápida, essa situação pode ser mais aguda”, afirma.O único grupo de empresas para o qual o gestor da Quantitas enxerga alguma perspectiva de valorização é o de exportadoras, caso o real perca mais valor ante o dólar.