Blog do PCO

Brasil 2015: A política como boxe

Paulo César de Oliveira
COMPARTILHE

Os norte-americanos (e quase todos os países oriundos da cultura anglo-saxônica) se contrapõem à astúcia como elemento central da política, tal como sugeria Maquiavel. Para eles, o realismo indicaria que a força é o elemento central de qualquer manutenção do poder. Entre boxe e xadrez, os EUA sempre se destacaram no esporte mais violento. Esta é a essência do realismo político do país mais poderoso do nosso planeta.

 

De alguma maneira, o final da gestão Dilma Rousseff consolidou esta crença norte-americana em terras tupiniquins. A campanha eleitoral deste ano foi, possivelmente, a mais agressiva e manipuladora de todas que presenciamos desde o final do regime militar. E, se no discurso do palanque de campanha, a candidata petista demarcou terreno ideológico com seu oponente, na montagem de seu ministério, foi mais conservadora que qualquer delírio aecista. Há um ditado popular nonsense em nosso país que afirma que alguns são “mais realistas que o rei”. Este é mantra petista, mais especificamente o petismo lulista. Caminham sempre para a ideologia do oponente mais forte, se possível, surpreendendo e superando o próprio oponente. Algo que se assemelha a uma transferência edipiana em que o pai odiado e admirado torna-se sua projeção, seu modelo de poder masculino.

 

O segundo ministério de Dilma é o supra sumo do conservadorismo. Pela primeira vez, o conservadorismo monetarista e com fortes laços no ideário que mantém identidade com o regime militar chegou ao poder pelo voto. Indiretamente, mas pelo voto, pela batuta de quem recebeu 54 milhões de votos para avançar nas políticas sociais que esboçam a promessa de igualdade social.

 

Na economia, colocou como guardião do bom-mocismo um monetarista clássico, indicado pelo Bradesco, que fez a oposição ultraliberal aplaudir. O Ministério da Agricultura será comandado por uma expoente do radicalismo ruralista. Um pastor expulso do PFL por ser flagrado num aeroporto com malas abarrotadas de dinheiro. Aliás, este pastor desalojou o aliado de primeira hora, o PCdoB, de seu bunker ministerial. A listagem é uma confirmação que faz da exceção uma pálida notícia do que foi, um dia, um partido que tinha trabalhador no seu nome e na sua alma.

 

A política do boxe, praticada sem pudor durante as eleições, tem este condão: pouco sofisticada, deixa seqüelas amargas para o resto da vida. A revanche é sempre previsível e esperada porque a humilhação do nocaute é tão estimulante ao oponente quanto a vitória por pontos. Aliás, a vitória por pontos é sempre questionada e o vitorioso sabe disto de antemão. Dilma sentiu na pele esta situação logo no dia seguinte à proclamação de sua vitória. O boxeador derrotado foi provocado por sua claque que, revoltada por uma derrota tão apertada, usou as armas que os petistas, quando oposição, utilizaram largamente. E, Dilma, uma lutadora acostumada em fazer política como boxe, decidiu trocar de lugar com os adversários.

 

Temos, então, esta troca simbólica entre o lugar dos adversários e o lugar dos petistas. O segundo ministério de Dilma é ainda mais conservador do que o anunciado como possível ministério de Aécio. E a oposição adota o estilo que sempre foi dos petistas.

 

O vaticínio de Alain Touraine, enfim, é confirmado por Dilma 2.0: “no Brasil, quem se diz socialista é socialdemocrata, quem se diz socialdemocrata é liberal e quem se diz liberal é conservador”. Sempre à direita, é o dístico que substitui o “sempre alerta” dos escoteiros. No dicionário de Dilma Rousseff, aliás, são sinônimos.

 

Rudá Ricci

Sociólogo e Cientista Político

COMPARTILHE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

News do PCO

Preencha seus dados e receba nossa news diariamente pelo seu e-mail.