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A Bioenergia na Matriz Energética Brasileira 

Paulo César de Oliveira
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Mário Campos

A matriz energética brasileira refere-se ao conjunto de fontes de energia disponíveis no país para atender à demanda energética em todos os setores da economia. Esta matriz engloba tanto fontes renováveis quanto não renováveis, incluindo energia para eletricidade, transporte, indústria e uso residencial.  

De acordo com a ONU, as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) ultrapassam 50 gigatoneladas de gás carbônico equivalente (GtCO₂e). A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que as emissões do setor energético ultrapassam 70% do total global, reforçando o papel central do sistema energético nas emissões mundiais de GEE. 

Diante desse fato, torna-se urgente a substituição dos combustíveis fósseis por alternativas de baixo carbono para atuarem na redução de emissões de GEE. Nesse contexto, a bioenergia emerge como uma solução particularmente estratégica no Brasil, que dispõe de vasta disponibilidade de biomassa e condições naturais favoráveis à sua produção.  

Do ponto de vista conceitual, a bioenergia é definida como a energia proveniente da biomassa, ou seja, materiais orgânicos de origem vegetal ou animal que podem ser convertidos em combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos, gerando calor, eletricidade ou combustíveis para transporte. Embora esteja inserida no conjunto de fontes renováveis, ela não se confunde com todas as energias limpas: bioenergia é um subconjunto específico, distinto das fontes solar, eólica, hidráulica ou geotérmica. Essa delimitação é essencial para compreender tanto o potencial quanto os riscos associados ao seu uso na transição energética.  

A matriz energética brasileira atingiu um marco histórico em 2024, com 50% de participação de fontes renováveis, frente a uma média mundial de 14%. Esse contexto reafirma o Brasil na vanguarda da descarbonização global. Dentre as fontes renováveis, a biomassa da cana lidera com uma participação de 16,7% da Oferta Interna de Energia (OIE), seguida pela hidráulica com 11,6%, lenha e carvão vegetal com 8,5%, licor preto com 8,1%, eólica com 2,9% e solar com 2,2%. Com isso, a bioenergia, que engloba biocombustíveis, lenha, carvão vegetal, licor preto, biogás etc., respondeu por cerca de dois terços (66%) da fatia renovável e alcançou cerca de um terço (33%) de toda a oferta interna de energia do país, reafirmando seu papel central na matriz energética brasileira. 

Diferentemente da matriz energética, que abrange todas as fontes de energia consumidas no país, a matriz elétrica considera apenas aquelas utilizadas na geração de eletricidade. Assim, embora a biomassa da cana-de-açúcar já tenha papel expressivo na Oferta Interna de Energia (OIE), sua relevância torna-se ainda mais evidente no setor elétrico por meio da bioeletricidade. Em 2024, o Brasil gerou 763 Terawatt-horas (TWh) de eletricidade, sendo 8% provenientes de fontes de biomassa. Deste montante, cerca de 75% tiveram origem nos resíduos da cana-de-açúcar. Essa geração é estratégica, pois ocorre predominantemente no período seco (maio a novembro), contribuindo para equilibrar o sistema elétrico e complementar a geração hidrelétrica, principal fonte da matriz. 

O Brasil ocupa posição singular nesse debate. Além de reunir condições naturais para a produção em larga escala, o país desenvolveu políticas pioneiras e consolidou um setor de biocombustíveis reconhecido internacionalmente. Políticas recentes, como o RenovaBio, adicionaram um componente de governança ao setor, introduzindo a certificação por intensidade de carbono e a emissão de Créditos de Descarbonização (CBIOs), o que reforça a vinculação da bioenergia às metas nacionais e internacionais de mitigação climática. 

A relevância dos biocombustíveis tende a se ampliar ainda mais nos próximos anos. Com a aprovação do programa Combustível do Futuro, o país reforça sua estratégia de consolidar etanol,biodiesel e biogás como protagonistas na transição energética. No cenário global, diferentes modais de transporte, como aviação e navegação marítima estão incorporando combustíveis renováveis em suas rotas descarbonização. Além disso, projetos inovadores vêm explorando a biomassa como fonte para geração elétrica, e o etanol desponta como matéria-prima estratégica para combustíveis avançados ou até mesmo para projetos de geração de energia elétrica com motores estacionários. 

Diversos países têm estabelecido mandatos obrigatórios de mistura ou adição de biocombustíveis, criando condições de mercado para estimular o desenvolvimento tecnológico e ampliar a escala produtiva. Esse movimento, somado à experiência brasileira, projeta uma expansão contínua e sustentada da bioenergia, consolidando seu papel não apenas no país, mas também como solução global para reduzir as emissões e garantir segurança energética. 

Combinando experiência histórica, abundância de recursos e instrumentos de política pública, o Brasil desponta como um laboratório global da bioenergia. Entender a evolução conceitual do termo, seus desafios de sustentabilidade e sua participação efetiva na matriz energética nacional é fundamental para analisar o papel da bioenergia na transição energética e para posicionar o país como protagonista no caminho rumo à neutralidade de carbono. 

Mário Campos – presidente da SIAMIG Bioenergia.

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