Wagner Gomes
Hoje ,o mundo acordou com um sopro diferente no ar, como se o vento trouxesse o perfume de um outono que não acaba. Há rumor de mar, tilintar de taças, dança sobre a mesa – e uma mulher que decidiu existir sem pedir licença. Brigitte Bardot não foi apenas imagem: foi gesto. Foi o e Deus criou a mulher transformado em verbo livre, altivo, vulnerável, um cometa de carne e coragem cruzando o céu do pós-guerra. O mundo se curva – não por fraqueza, mas por reconhecer o impacto de uma estrela que ardia em pleno dia.
Bardot não foi rótulo: foi força. Repintou a ideia de liberdade no cinema, queimou certezas, acendeu desejos, desafiou moralismos. Teve contradições intensas, mas encontrou abrigo na ternura feroz pelos animais, transformando fama em luta concreta, numa chama que segue pulsando. No cinema foi tempestade; na causa animal, chama; na vida, símbolo de existir sem muros.
Antes dela, amar podia ser culpa. Depois dela, virou escolha. Dançou sobre moralismos, escandalizou como quem respira, beijou como poesia, enfrentou diretores brutais, amores tumultuados, multidões vorazes. Chorou, riu, caiu e levantou — porque a liberdade verdadeira custa caro, mas ilumina. Ela pagou o preço com altivez: viver dói, mas viver sem coragem dói mais.
Houve quedas e tempestades; houve também generosidade ardente. Sua vida foi incêndio, controvérsia e clarão. Hoje sentimos a mudança da luz: a França parece mais vazia, o cinema mais só, e ainda assim algo permanece aceso — a ideia perigosa e bela de que “a liberdade é ser você mesma, mesmo quando incomoda”. BB transformou isso em bandeira e oração sem altar.
Fica sua herança profunda: a mulher que não se curvou, que reinventou o olhar do mundo, que fez da própria vida um manifesto. E, enquanto o tempo se inclina em silêncio, ainda ouvimos sua risada atrevida no vento — e entendemos: certas estrelas não se apagam. Apenas continuam brilhando em nós.
