Luiz Antônio Athayde
Telefones celulares estendidos para o alto como se fossem estilingues a capturar melhores cenas e selfies. Bebê no colo da mãe-deputada acomodados na mesa diretora, algo nunca visto antes na Câmara dos Deputados. Um empurra-empurra, típico de entrada de estádios de futebol, com polícia de farda na entrada do Plenário.
Palavrões, xingamentos entre membros de todos os partidos, cotoveladas, coisa própria de torcidas raivosas e não de legisladores que deveriam se ocupar de prioridades nacionais e da ordem do dia de projetos relevantes.
Por fim, já noite adentro, dá-se a acomodação atabalhoada do presidente da Instituição representativa do povo brasileiro na cadeira de espaldar alto, símbolo silente de um dos cargos mais relevantes da República.
Era para o presidente abrir e dar início aos trabalhos da primeira sessão legislativa do 2• semestre mas o que se viu foi um ambiente carregado e apenas sôfregas palavras de ordem jogadas ao vento.
Em um dos lados da Praça dos 3 poderes, o presidente da Nação dava entrevista à agencia Reuters dizendo não querer ser humilhado por governante de um outro hemisfério por conta de contenda e taxação comercial imposta unilateralmente.
Todavia, a preocupação maior do Executivo habitava a sala ao lado com assessores nervosos em analisar os efeitos concretos de tarifaço imposto à Índia por esse mesmo governante em represália a compra sistemática de petróleo da Rússia sob a justificativa de que esse comércio está a financiar o esforço de guerra na invasão da Ucrânia.
Em tempo: 60% de todo o óleo diesel consumido na Terra Brasilis vem de refinarias localizadas nas estepes russas o que escancara um problemaço adicional, da extensão da cadeia dos montes Urais.
Do outro lado da Praça, ministros da Corte Suprema, à portas fechadas, trocavam impressões sobre desdobramentos de decisões recentes da Corte em cenário complexo e de muita indagação jurídica.
E justo no meio da praça dos poderes, jogado ao léu, menosprezado, se encontrava o pino de centro da temperança e do bom senso que deveria fazer equilibrar e trazer harmonia à tênue democracia brasileira.
Luiz Antônio Athayde – presidente da Héstia Consultoria Econômica.