Wagner Gomes
Lula sonha com a velha fantasia: um Brasil sem juros. Para ele, o Banco Central é culpado pela inflação, os mercados sabotam o progresso e os pobres sofrem porque os rentistas mandam demais. É o enredo perfeito para discursos inflamados — e péssimo para a realidade econômica. Reduzir os juros à força, como ele sugeria no tempo de Roberto Campos, exigiria rasgar a autonomia do BC, atropelar contratos e acenar aos investidores com o clássico “quem manda aqui sou eu”. O resultado? Fuga de capitais, desvalorização do real, pressão inflacionária e recessão. Não é teoria: é prática. A Turquia de Erdogan tentou. Teve inflação acima de 60% e a lira virou piada. A Argentina “kirchnerista”, como sempre, fez ainda pior: inflação de 95% e dólar Coldplay, dólar soja, dólar Netflix — um zoológico monetário. Ambos romperam com o “imperialismo financeiro”. Ambos pagaram com miséria. No Brasil, cerca de R$ 711 bilhões em títulos públicos estavam nas mãos de investidores estrangeiros, ao final de 2024. Basta um aceno heterodoxo mal calculado e parte desse dinheiro voa (“flying capital”) — com ele, o câmbio dispara e as reservas internacionais encolhem. Para estancar a sangria, o governo teria de controlar o câmbio, reprimir capitais, tabelar juros, manipular preços e reinventar a velha repressão financeira: forçar o cidadão comum a bancar a farra estatal. A heterodoxia pinta o mercado como vilão, mas esquece que quem compra títulos, investe e empresta, quer previsibilidade e não voluntarismo populista. Sem confiança, não há crédito. Sem crédito, não há crescimento. O sonho lulista de baixar os juros na marra é só isso: um sonho para ele, embora um pesadelo para nós. E, como todo voo sem motor, tem hora para cair.