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Nana, a voz que acendeu a sombra

Paulo César de Oliveira
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Nana Caymmi

Wagner Gomes

Em Nana Caymmi (foto/reprodução internet) havia um abismo. Um abismo entre o som e o silêncio, entre a lágrima e o canto. Uma voz que não interpretava: confessava. Como se a música não fosse uma partitura, mas uma memória — feita de mágoa, de sal, de noites em que o tempo parava para escutá-la sofrer. Nana não cantava para entreter; cantava para existir. E, ao existir, doía. Como toda beleza funda. Ela atravessou os sambas-canção como quem pisa cacos de lembrança: sem hesitação. Deu corpo à poesia muda de Dolores Duran, vestiu de lamento os versos de Milton e traduziu o pai, Dorival, com a intimidade de quem herdou o mar no sangue. Poucas vozes, talvez nenhuma, souberam ser tão ternas e tão dilaceradas ao mesmo tempo. Nana, na constelação da música brasileira, não brilhou para ser estrela — brilhou porque era impossível calá-la. Sua presença continua nos acordes suspensos de “Resposta ao tempo”, na pausa carregada de sentido em “Cais”, no adeus delicado de “Por causa de você”. Cantora de ninguém e de todos, guardiã de amores antigos e dores que não se nomeiam, Nana permanece: feita de voz, silêncio e eternidade.

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