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O show de Caiado

Paulo César de Oliveira
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20250902 133111

Wagner Gomes

No Conexão Empresarial desta tarde, Ronaldo Caiado não discursou: deu um concerto. Um daqueles em que o maestro conhece de cor cada partitura da orquestra brasileira — da desafinada saúde pública ao arranjo torto das contas nacionais. Seu diagnóstico é clínico: o país sofre de má gestão crônica. Sua receita, quase cartesiana, vai da reforma da administração ao resgate da confiança na política, onde a dispersão de candidaturas à direita e ao centro é música para os ouvidos do PT e de seu estrategista maior, José Dirceu, sempre disposto a coreografar o balé revolucionário de Lula. Mas Caiado se distingue porque não fala apenas para o curral. Fala como quem já viu o mundo, como quem sabe que o Brasil não é ilha, mas arquipélago conectado a fluxos globais de capital, comércio e ideias. Evoca, sem citar, a sabedoria de Santiago Dantas — o Brasil precisa de grandeza diplomática — e a verve liberal de Roberto Campos — o país só terá futuro se abraçar produtividade, ciência e abertura ao concerto das nações civilizadas. É curioso ver um político de raízes goianas tratar com naturalidade temas que vão da geopolítica da soja ao tabuleiro tecnológico das grandes potências. Caiado acena com uma cosmovisão rara na política brasileira: não se limita a administrar crises, mas sugere colocar o Brasil na mesa onde se decide o futuro. Para uns, pode soar ousadia; para outros, pretensão. Mas, convenhamos, pior do que o excesso de ambição é a resignação tropical em ser apenas fornecedor de commodities e de anedotas diplomáticas. Se fosse uma comédia de Woody Allen, Caiado diria que governar o Brasil é como levar Freud a um churrasco em Goiânia: uma experiência de resistência cultural e psicanálise coletiva. Só que, em vez de risadas nervosas, o auditório respondeu com aplausos. Talvez, porque o público, cansado de promessas miúdas, vislumbrou ali um candidato capaz de pensar grande. No fim, ficou a impressão de que o Brasil, tantas vezes tratado como republiqueta, poderia aspirar a república de fato — e que Ronaldo Caiado, do alto de sua mistura de médico, agricultor e estadista, ensaia o papel de maestro para conduzir a nação desafinada ao concerto das grandes potências.

Wagner Gomes – Articulista

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