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Tarifas, tretas e tribunais

Paulo César de Oliveira
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Treta

Wagner Gomes

O governo Lula, ao adotar um tom abertamente antiamericano, arriscou converter a política externa em extensão do discurso doméstico. A resposta veio na forma de um tarifaço que não obedece à lógica econômica, mas à lógica do poder simbólico. Não foi um simples chilique protecionista, nem um soluço imperial do trumpismo atrabiliário. A carta chegou, timbrada, solene, como manda o figurino das retaliações. Invoca a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 - uma geringonça jurídica, um trambolho legislativo com verniz técnico e cheiro de revanche. Ela permite que os Estados Unidos - o xerife do comércio global - investiguem práticas “injustas ou discriminatórias”; a seu bel-prazer e, sem pestanejar, espanquem com tarifas qualquer país que ouse dificultar o “american way of trade”. E eis o twist: o alvo não é o boi, nem o aço, nem a soja. É o Supremo Tribunal Federal - ou melhor, o dedo do Supremo nos botões de censura digital. Os gringos dizem que as ordens judiciais brasileiras contra plataformas americanas violam a sacrossanta liberdade de expressão. E isso, ah, isso atrapalha negócios, fere tratados, derruba ações em Wall Street e, quem sabe, até mísseis no Iran, Palestina e Ucrânia. E aí entra Bolsonaro… ou melhor, a alegoria de Bolsonaro. Um figurante de luxo neste teatro tropical. Uma referência cenográfica, mero adereço, usado para dar o toque de felino à narrativa. A rigor, o tarifaço é menos contra ou a favor dele, e mais um sarro dirigido a Lula - a quem considera ventríloquo de Xi Jinping e de Vladimir Putin. Lula passou anos desdenhando o pato Donald e agora prova o gosto amargo de suas bravatas. Trump, do alto de sua torre de verdades próprias, alimentadas por quem o admira ou inveja, grita que a liberdade de expressão foi violada. Lula responde com sua verve revolucionária de palanque. Enquanto isso, o governo brasileiro revida no palco errado. Em vez de técnica, teatro. Em vez de diplomacia, dramaturgia ideológica. De novo o velho truque do nós contra eles, como se a cadeira presidencial fosse palanque perpétuo. O resultado é um confronto de egos travestido de disputa comercial. Mas por trás do teatro, de um lado o que se vê é um presidente que confunde partido com pátria - e o país acaba pagando a conta. Do outro lado, um país conduzido por um espeloteado, que se arvora em ser dono do mundo. Melhor fariam se resolvessem a querela num ringue de luta livre, com shortinhos de bandeira e tudo, bem ao gosto norte-americano. Teria alguma graça e faria menos estrago...

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