Wagner Gomes
Os comitês já brotam como pastel em feira: baratos, improvisados e cheios de recheio duvidoso. Eles ganham
contornos para a próxima disputa presidencial, improvisados com Wi-Fi que mal carrega o Pix e promessas fortes. Como cronista da tragicomédia nacional, já antevejo os rituais: nas viagens governamentais vai proliferar o beijo em bebê desconhecido, selfie com cheiro de peixe e lives para torturar eleitores que ainda têm internet. Tudo embalado no kit “corrupção, educação, saúde, inclusão e segurança” – aquele que nunca vem com manual de uso. Aliás, para deputados e senadores, corrupção é como o colesterol: só faz mal quando é do adversário. As eleições presidenciais já estão onde o vento faz a curva na estrada e, como todo bom espetáculo itinerante, traz de volta – além dos personagens de sempre – o mesmo chavão de que a política começa no município. Mentira. A política começa no orçamento – e termina no loteamento. O voto virou capital de giro, e a eleição, um leilão onde o metro quadrado do apoio varia conforme a quantidade de cargos disponíveis no poder Executivo. E acredite, tem
pretendente vendendo até o que não ganhou. Agora o eleitor virou algoritmo: é segmentado por gênero, bairro, religião e até tipo sanguíneo. Tem campanha personalizada até para quem nunca votou em ninguém – e ainda assim, na falta do Posto Ipiranga, vai receber um vídeo com jingle e depoimento da “tia Maria do posto”. Enquanto isso, os partidos fingem ter identidade programática. Puro espetáculo de ilusionismo ideológico, sobrevivendo apenas para driblar a cláusula de barreira. O presidente atual jura que vai terminar o que não começou, e o desafiante garante que vai desfazer tudo o que o outro começou – caso tenha, de fato, começado. Eu, do meu balcão, observo: Brasília ri por dentro, porque duvida de que quem controla os grotões decide o Planalto. E tal como brota carrapicho em roupa de roça, a mesma dúvida volta a ser levantada: voto manual ou urna eletrônica? Em realidade, tudo não passa de uma barganha digital.
