A violência em Vitória e outros municípios capixabas, estimulada pela greve da Polícia Militar, que vai diminuindo com a volta gradual da tropa, deixa patente muito mais do que a falência do modelo de segurança brasileiro e dos estados, como consequência da desestruturação da economia nacional. Mostra a degeneração da sociedade e das pessoas, capazes de gestos inimagináveis, quando não lhes impõem limites através da força. Os saques e a violência contra pessoas e patrimônio expuseram a face “besta” de alguns indivíduos até então insuspeitos. Para quem tinha alguma dúvida, ficou evidente a necessidade da mão forte do Estado para controlar instintos bestiais de alguns cidadãos que, ao se verem livres das amarras impostas pelo poder público, são capazes de práticas só atribuídas aos marginais. Os “marginais de ocasião” são, portanto, não propriamente um problema novo, mas um problema a ser levado em consideração nos planejamentos de segurança. As redes sociais insuflam estas pessoas que se aproveitam do “efeito manada” e participam de atos de violência e vandalismo sem qualquer sentimento de culpa. A violência contra a vida e contra o patrimônio são os efeitos perversos da paralisação das polícias, que ameaça se estender por outros estados, caso nossos governantes não consigam fazer impor a lei. A lei que tem também o outro lado: receber em dia é direito dos policiais e dos trabalhadores em geral. A propósito, o folclore político mineiro registra um caso bem interessante. Era governador de Minas o sério e justo Milton Campos, patrimônio político mineiro. Uma greve de ferroviários, em Divinópolis, centro-oeste do estado, paralisou o transporte de cargas e passageiros na região. Alguns assessores se apressaram em sugerir a Milton Campos o envio de pelo menos dois vagões com militares para a cidade, com o objetivo de reprimir o movimento. A eles o governador respondeu simplesmente: “não seria melhor enviar o trem pagador”?