O pedido de acareação que pode colocar, frente a frente, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o ex-consultor da Toyo Setal, Júlio Camargo, foi protocolado ontem (20) na secretaria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. O colegiado é que decidirá se acata ou não o requerimento da deputada federal Eliziane Gama (PPS-MA) já que, pelo Regimento Interno da Casa, a CPI pode funcionar normalmente durante o recesso parlamentar que só termina em 1º de agosto. De acordo com assessores, o presidente da CPI, Hugo Motta (foto), do PMDB-PB, pode convocar sessão para votar o requerimento, mas para a votação ocorrer, é necessária a presença de quórum mínimo de 14 deputados. Para evitar desgastes com risco de reunião esvaziada, a medida depende de levantamento para identificar quantos dos 27 parlamentares que integram o colegiado estariam dispostos a se reunir ainda em julho.
CPI tem calendário de depoimentos em agosto
Um dos delatores do esquema de corrupção na estatal, Júlio Camargo, disse, na última semana, que Cunha pediu US$ 5 milhões para viabilizar contrato de navios-sonda da Petrobras e exigiu pagamento de propina ao lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. O depoimento foi à Justiça Federal do Paraná e acabou agravando as relações de Cunha com o Planalto. O parlamentar negou as informações prestadas por Júlio Camargo, que não tinha feito a denúncia nos depoimentos anteriores, e disse que o empresário foi pressionado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que, segundo ele, “atua à serviço do governo” em troca de sua recondução ao cargo. O mandato de Janot na Procuradoria-Geral da República acaba em 17 de setembro e ele pode ser reconduzido ao cargo pela presidente Dilma, por mais dois anos, mas precisa passar por nova sabatina no Senado. Na volta do recesso, a CPI ouve, no dia 4 de agosto, o presidente da Mitsui, Shinji Tsuchiya, e, no dia 5 de agosto, o presidente da Samsung no Brasil, J. W. Kim. Os dois não compareceram à sessão do último dia 15, quando deveriam prestar depoimento para falar sobre o pagamento de propina ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e ao PMDB, em um contrato de aluguel de sondas celebrado com a Petrobras. Cunha negou que tenha sido o destinatário do dinheiro. A denúncia foi feita pelo doleiro Alberto Youssef, que também será ouvido pelos parlamentares da comissão durante acareação com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, marcada para o dia 6 de agosto.
Cunha aceita mas quer outras acareações
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse ontem (20), em evento partidário no Rio de Janeiro, que não se opõe a uma acareação com o ex-consultor da Toyo Setal Júlio Camargo, contanto que outras acareações sejam feitas, incluindo uma entre a presidente Dilma Rousseff e o doleiro Alberto Youssef.“Não tenho nenhum problema, faço acareação com quem quiser, a qualquer tempo, mas aproveita e chama o ministro Aloizio Mercadante [chefe da Casa Civil da Presidência da República] e o ministro Edinho Silva [secretário de Comunicação da Presidência] para acareação com o Ricardo Pessoa e a presidente Dilma [Rousseff] para acareação com o Youssef. Acho justo que haja acareação de todos os que foram citados”, afirmou o deputado. “É preciso convocar todos os que estão em contradição, pois, quando os ministros Mercadante e Edinho negam o que foi colocado pelo delator Ricardo Pessoa, ou quando a presidente Dilma nega o que foi colocado pelo delator Yousseff, é preciso que se faça a acareação de todos”, acrescentou o presidente da Câmara. Cunha reafirmou que não buscará vingança contra o governo como presidente da Casa. “Manteremos uma pauta com independência, [com] harmonia entre os Poderes e nenhuma pauta bomba. Não queremos tacar fogo no país. Mudei meu alinhamento político com relação ao governo, mas não significa que meu papel como presidente da Câmara vai mudar”, explicou.