Há um indisfarçável ar de nostalgia na política brasileira. Como nos primeiros anos da República, grupos no poder alimentam o radicalismo. Atiçados, os “jacobinos”, como os governistas radicais de hoje, urravam em manifestações pedindo a ditadura militar, com o silêncio conivente do Marechal Deodoro, nosso primeiro presidente da República. Para completar o ar nostálgico, a história registra a participação de um outro Bispo na nossa vida política. Se em 2018 um demente inimputável, Adélio Bispo, tentou matar a facada o então candidato Jair Bolsonaro, outro Bispo, Marcelino, este em pleno gozo das faculdades, militar de baixa patente do Exército, tentou matar a facadas, num ato articulado por grupos militares e paramilitares radicais, o primeiro civil eleito presidente, o paulista Prudente de Morais. As facadas acabaram atingindo o Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bitencourt, que se lançou à frente do presidente, acabando morto dentro de um quartel do Exército. Prudente de Morais era o alvo dos radicais pela sua política de desmilitarizar a administração pública. Hoje assistimos o movimento contrário. A presença marcante dos radicais no governo do primeiro presidente da República, o alagoano Marechal Deodoro, se explica, em parte, pela importância que eles tiveram na Proclamação da República, um movimento que mudou a face do Brasil. O alimentar deste radicalismo não tinha justificativa, como não existe para a situação atual, por mais que os grupos dominantes hoje insistam em dizer que farão um governo revolucionário, que mudará a história do país, expulsando da vida pública o que chamam de vermelhos. “A fatalidade das revoluções é que sem os exaltados não é possível fazê-las e com eles é impossível governar”, escreveu o abolicionista Joaquim Nabuco na efervescência da disputa política, logo no início da República. A lição parece não ter sido assimilada por parte de nossos governantes que não se vexam em alimentar manifestações de ódio, de intolerância entre grupos, em estimular ações antidemocráticas e de usar postos e patentes para ameaçar o que consideram adversários, melhor, inimigos políticos. É hora de dar um basta em tudo isto. Inclusive neste debate tacanho sobre a oportunidade de um golpe contra a Constituição. Não, quem dá golpes não estará nunca legitimado pela lei. Se legitimará pela força em benefício de um grupo. Nós conhecemos os efeitos disto. Quem estimula precisa se lembrar de que movimentos de quebra da normalidade constitucional, é possível prever como começam. Não como evoluem e terminam.