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Ameaça de recessão dá uma freada na esperança

Paulo César de Oliveira
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Ser um povo que se move pela esperança não é mesmo fácil. Nós brasileiros sabemos muito bem disto. Há muitos anos tem sido assim: quando começamos a nos animar, a recuperar a esperança e apostar tudo nela, algo dá errado. Agora, por exemplo. Estamos apostando na recuperação que pode vir sim, mas não na velocidade que precisamos e esperávamos. Além dos governantes, que prometeram o que até aqui não demonstraram condições de entregar, o mundo resolveu nos pregar uma peça. Trump abre sua campanha pela reeleição colocando a economia mundial na beira de uma crise pelo confronto com a China. E os emergentes, principalmente, devem ficar com esta conta que, no mínimo, será o adiamento do processo de recuperação econômica. Quando a economia mundial dá uma freada, por menor que seja, leva algum tempo para uma nova arrancada. E ao restabelecer o caminhar, vai devagar, ganhando ritmo. A retomada do crescimento, certamente, não acontece na intensidade de uma disputa de quilômetro de arrancada. O pior é que esta é a intensidade de que necessitamos. E até pensávamos, com nossa mania de esperança, que ela começava a acontecer. Afinal, apesar dos últimos estudos mostrarem que regredimos na maioria dos noventa indicadores socioeconômicos, não fomos tão mal assim nos econômicos. Avançamos em vinte, retrocedemos em vinte, ficamos estagnados em sete. Para quem vinha caindo, até que conseguimos frear a ré. Quando vamos arrancar na primeira é que não sabemos. Há, para nossa desesperança, sinais de recessão mundial. Não dá para ver o tamanho dela mas, por menor que seja para as potências, será sempre marcante nos emergentes. Quais os reflexos de uma freada de arrumação na economia sobre o comportamento político todos conhecem. O primeiro deles é a perda, pelo do governo, de apoio político e popular. Sem a sustentação popular, fica difícil fazer as mudanças indispensáveis. E sem uma economia em movimento, capaz de gerar emprego e renda que acomode milhões de desempregados, não há governo que se sustente. Esta é uma verdade inexorável percebida pelo marqueteiro de Clinton, James Carville, na disputa com Bush à época considerado invencível na disputa pela reeleição, após estrondosa vitória na Guerra do Golfo. O ego americano estava inflado, mas o país vivia uma recessão, com desemprego e insatisfação. Carville gritou na campanha “é a economia, estúpido”, chamando a atenção da população americana para seus problemas. Resultado: o invencível, o quase mito Bush, o pai, foi derrotado pelos resultados econômicos de seu governo. Há quem assegure que tantos anos depois, “já não é a economia, estúpido” que comanda a política. Pode ser. Mas não é bom arriscar. No ano que vem, nas eleições municipais, poderemos sentir quem está com a verdade. E o atual, ou os atuais governos, considerando os estaduais, estarão apenas na metade de seus mandatos. O que virá depois?

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