Em época de formação de equipes de governo, é bom não se esquecer das lições de velhas raposas da política. Duas delas são preciosas. A primeira é que não se governa com exaltados. São bons para vencer eleição, mas problemáticos como parte de equipes. A segunda é essencial para os iniciantes: não se nomeia quem não se pode demitir depois. O presidente Bolsonaro está, ao que parece, sentindo na pele as consequências da primeira parte da lição. Por ter feito uma campanha polêmica, se cercou de exaltados que, para não desmentir a regra, já estão colocando as “manguinhas de fora”, anunciando o que não existe ou não é para ser anunciando ainda, criando resistências desnecessárias a projetos que mal foram definidos. Eles são assim. Sentem-se, donos do Poder. Acreditam piamente que foram responsáveis pela vitória do escolhido das urnas. E procuram demonstrar serem íntimos do eleitor, e ativos participantes das formulações do futuro governo. Não medem consequências do que especulam ou do que deixam vazar. Melhor, distância deles agora, nem que, estruturado o governo, se dê a eles um afago que lhes alimente o ego. Complica um pouco quando o exaltado é exatamente o vice, como foram, por exemplo, Itamar e José Alencar. Viviam reclamando de tudo. Alencar, em especial, dos juros. O General Mourão, vice de Bolsonaro, pelo que se vê, é bem do estilo exaltado-reclamão e já avisou que pretende ter uma sala bem ao lado do presidente no Planalto. Vai dar trabalho e é tão eleito quanto o presidente. Portanto, não pode ser demitido. Outro que entra nesta categoria de não poder ser demitido, é o juiz Sérgio Moro (foto). Por razões diversas, evidente. Moro entra no governo como o símbolo maior da luta anticorrupção e, neste ponto, é maior do que o próprio presidente. Mais, vai ocupar um cargo que, no imaginário popular, permite ao seu titular “prender e soltar” pois afinal, é o ”ministro da Justiça” e justiça é o que o brasileiro mais cobra. Para alimentar este imaginário, ainda inflam as competências de Moro, como se ele tivesse efetivo controle sobre órgãos como a Polícia Federal e o Ministério Público, sem falar é claro, do Judiciário. O futuro ministro deveria, para não causar decepção, esclarecer ao distinto público que o vê como a solução de nossos problemas de corrupção, que tem limites de atuação. Que não pode tudo como se imagina. Um fracasso seu vai comprometer o governo. Uma atuação apenas mediana, cria dificuldades para o presidente que não poderá demiti-lo, sob pena de ser acusado de compactuar com a corrupção.