Era verdade absoluta entre nós, mais especialmente nos meios políticos e econômicos, que o Brasil só começava a funcionar após o Carnaval. Alguns mais ousados estendiam este prazo para depois da Semana Santa, o que o tempo, sempre o senhor da razão, acabou confirmando. Este 2017 está fugindo do velho padrão. Talvez até, quem sabe, ele seja ainda uma prorrogação de 2016, pois seus primeiros trinta dias, foram em temperatura bem elevada para o marasmo tradicional de início de ano. E dentro deste ritmo, a semana começa com promessas de grande movimentação política, com reflexo, evidente, na economia. Já para amanhã, espera-se, a ministra Cármen Lúcia (foto) deve homologar a delação dos executivos da Odebrecht, o que nos permitirá, caso a Justiça permita, saber o que afinal eles falaram e contra quem falaram. Mas, atenção para não se frustrar. A homologação não significa a condenação de ninguém. Apenas permite que se abra as investigações com base no que foi denunciado. Condenação mesmo, que ninguém se iluda, só daqui, com muito boa vontade, uns cinco, talvez dez anos, que é o ritmo do Supremo. Que o diga, por exemplo, Renan Calheiros, presidente do Senado, que tem processos sem julgamento há quase dez anos no STF.
Mas, de qualquer maneira, a homologação é importante para se tirar a pressão sobre os presidentes da República e do Supremo. Sobre Temer para que ele indique logo o substituto de Teori e sobre Cármen Lúcia para a indicação do novo relator. Não é um alívio por tanto tempo assim, mas possivelmente seja possível postergar estas decisões para depois do Carnaval, fazendo assim que o país volte à normalidade de seu calendário.
Nesta semana se define também quem será o novo presidente da Câmara Federal. Um imbróglio sem fim, que não precisava ser assim, não fosse o comodismo do Supremo Tribunal Federal. Por sua infinita capacidade de evitar até mesmo ameaças de confrontos, o STF se escudou na lei para, até agora, não impedir a realização da eleição da Mesa. Vai deixar Rodrigo Maia se apresentar como candidato, apesar da inconstitucionalidade de sua candidatura. Se não tem coragem de impedir a candidatura, justificando-se na necessidade de cumprir prazos da defesa antes de julgar o Mandado de Segurança, que coragem terão os senhores ministros de reconhecer a ilegalidade e tirar Maia da presidência? Estamos, portanto, às portas de um novo e dispensável desgaste de nossas instituições.
Estas duas questões vão movimentar Brasília, fazendo com que a cidade retome aas atividade que melhor sabe realizar: fofocar e exercer a esperteza. Enquanto isto, no mundo real, a semana é de retomada das aulas, de retomada da alegria das ruas e de uma monumental piora na qualidade do trânsito, nas cidades de maior porte. Boa semana, apesar de tudo.