Autran Dourado (foto), em um de seus contos, “Os mínimos carapinas do nada”, diz que “quem não tem o que fazer, faz colher de pau e enfeita o cabo.” Teremos, com certeza, uma superprodução de colheres de pau com o cabo enfeitado no país. Não que falte o que fazer. Ao contrário, temos um país a reconstruir, com muito a ser mudado e muito a ser pensado. O que falta mesmo é competência dos que, em nome de um jeito novo de fazer política, acabaram com o que existia e não apresentaram as novidades que propunham. Aí, pensando bem, é melhor que não façam nada mesmo. Se lhes falta competência para fazer, e em todos nós para votar, é melhor ir talhando colheres com cabos enfeitados. Mais do que isto pode ser arriscado pelos estragos que poderemos causar e que, com toda certeza, serão muito mais dolorosos para serem refeitos. Num país que se autodividiu entre malucos e cachaceiros, o futuro fica tenebroso. É desanimador imaginar o que nossos atuais governantes seriam capazes de produzir para nos tirar do buraco que seus antecessores cavaram e enfiaram o país. E para sermos justos, a responsabilidade por estarmos como estamos não é apenas do Executivo. É fato que no Brasil o único poder real é o Executivo. A ele, mais ou menos descaradamente, se curvam Legislativo e Judiciário, o que nos torna reféns das maluquices ou cachaçadas dos grupos de comando. Este é um dos nós que impedem o país de avançar. Quando se tem um sistema de freios e contrapeso, com poderes realmente independentes e harmônicos, os excessos são contidos. Infelizmente não é o que acontece entre nós. Nunca- quem acompanha política sabe bem disto- se viu o país com poderes e instituições tão fracos, com tantos despreparados ocupando cargos e funções fundamentais para a estabilidade econômica e social do Brasil. Esta é a nossa realidade de momento. Quem sabe realizando uma eleição por mês a gente, em um ano, muda a realidade? É uma tentativa. Enquanto isto, vamos fazendo colher de pau com cabos bem decoradinhos.